Educação política da vontade
 
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Educação política da vontade

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João RibeioÉ consensual a opinião generalizada de que Portugal carece de uma cultura desportiva capaz de promover a qualidade de vida dos seus habitantes. Por muito que possamos observar uma população mais activa, caminhando,

correndo ou frequentando ginásios, observamos também crianças que percorrem a sua infância sem desenvolverem uma verdadeira identidade com as actividades corporais, criando hábitos e estilos de vida saudáveis, contornando flagelos sociais e fortalecendo a sua personalidade. Muitos não gostam, muitos não querem, muitos não podem, muitos fartam-se, poucos continuam.

Todavia, os dados rigorosos obtidos através do Eurobarómetro Europeu 2014, dizem-nos que apenas 8% da população pratica regularmente actividades desportivas. 64% da população portuguesa não pratica desporto. Nesta lógica a vontade política começa, responsavelmente na leitura e reflexão destes dados.

Se a literatura antiga e recente, escrita por autores estrangeiros e portugueses, não se cansa de enaltecer bons propósitos e as mais-valias de uma sociedade activa (fisicamente), onde os seus habitantes constroem e desenvolvem a sua personalidade, sentido cívico e competências diversas com base em boas experiências desportivas, onde está efectivamente o efeito prático desse ideal?

Aliás, questionaria sobre a utilidade de uma política desportiva? Para que serve, se passados 40 Anos de Democracia continuamos a abordar os mesmos problemas?

  • As dificuldades financeiras para sustentar um projeto desportivo profissional em modalidades apelidadas de “Amadoras”;
  • Dificuldades financeiras em manter sustentável um projeto de formação desportiva em modalidades amadoras;
  • Responsabilidade constitucional das entidades estatais em promover a actividade física e desportiva, que na prática são mantidas pelos que sentem as dificuldades anteriormente descritas.

Décadas vão passando e parece que os momentos fogazes de aparente desenvolvimento desportivo, suportados por alguns brilhantes resultados, não constituem chama que faça acender a vontade política para pensar, construir e fomentar um projeto nacional de educação desportiva. Pelo meio vão-se perdendo, por desgaste, saturação e impotência, agentes válidos que foram dando vida a iniciativas que a vontade política tratou de as esquecer e retirar o seu apoio.

Como referiu San Payo Araújo no seu último artigo, o caminho seguir não é o de exigir mais dinheiro (pois esse parece não haver) mas sim condições de trabalho. Certo é que com dinheiro consegue-se fomentar e operacionalizar muitas ideias e projetos. Mas parece que todos nascem fragilizados por falta solidez em responder efectivamente à questão – o que queremos efectivamente com o nosso Desporto?

Noutros países, ao longo da sua história, o Desporto substituiu exércitos, constituindo a medalha e o troféu expressões de poder sobre outras nações; sustentou um ideal de Educação; Ajudou a minimizar as despesas de um Serviço Nacional de Saúde. Para tal investiu-se, pensou-se, idealizou-se e trabalhou-se para poder ser o melhor dos melhores. Os fins justificaram os meios. A motivação e mobilização foi total no sentido de derrotar o “inimigo” através da competição desportiva.

Em Portugal parece que todos os meios que se conquistam carecem de um verdadeiro fim, ou pretendem alcançar fins de menor dimensão.

O Basquetebol, integrado nas ditas modalidades amadoras (tendo já tido um percurso profissional) está inserido neste cenário. Possui características que poderão contribuir para edificar um novo paradigma desportivo, mas tarda a revitalizar a sua intervenção a este nível. Vivendo tempos difíceis, onde as referências para a sua promoção e a visibilidade para o seu desenvolvimento estão adormecidas (esperemos que não morram definitivamente), terá, obrigatoriamente de reconstruir a sua identidade pela base, pelo início, pelos que iniciam e angariando quem mais queira iniciar. Aliás, como tudo começou. Mas não vai conseguir realizar esta tarefa sozinha.

O Basquetebol e todas as modalidades que tornaram a ser amadoras, terão de se unir, encontrando princípios comuns que despertem a vontade política para promover o desporto e educar desportivamente o cidadão. Creio que nascerá tudo da vontade, associativa, federativa para criar uma massa crítica capaz de contribuir para a mudança. O processo de atrofia da maioria das modalidades poderá ainda não ser visível para todos aqueles que ainda lutam para manter o topo da modalidade vivo. Mas provavelmente esquecem-se de que actualmente a criança e o jovem se desenvolvem em termos motores através de experiências psicomotoras, desportivas fugazes, que terminam por falta de tempo, por falta de persistência, pelo desgaste das pessoas, por falta de recursos financeiros, por excessivas exigências legais desproporcionais à verdadeira vontade política em desenvolver o desporto em Portugal . Muitas terminam porque o percurso escolar parece não contemplar um percurso desportivo, criando muitas dificuldades a quem o queira seguir.

Arriscamo-nos a não ter população desportiva a médio prazo, se não fizermos algo inovador em prol do desporto. Não escrevo como quem possui soluções milagrosas, mas não deixarei de pensar e expressar os pensamentos nalgumas ideias práticas subjacentes às minhas funções. A massa crítica poderá juntar pessoas válidas, filtrar os que se queiram aproveitar para fomentar projetos fugazes, desenvolver um processo de reflexão, apresentar ideias concretas.

Obrigatoriamente este ciclo triste de empobrecimento do nosso desporto não vai ficar por aqui. Ou encontramos forma de o revitalizar, ou o Desporto, tal como o conhecemos, passará à história e à memória, correndo o risco de não ajudar no futuro.
Educar a política da vontade poderá estimular a vontade política.

 

Comentários 

 
0 #2 João Bessa 16-05-2014 10:57
Excelente artigo repleto de verdades.
Acautelar o futuro deve ser o nosso maior troféu a conquistar.
E nesse capitulo devemos revelar muito mais vontade e inteligência.
Pressão constante sobre as entidades próprias por parte de todos nós cidadãos, e eis o segredo mais conhecido do mundo para levar avante uma mudança.
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0 #1 Humberto Gomes 14-05-2014 22:31
Meu caro João Ribeiro,

Uma vez mais, ao ler este teu artigo, de duas uma: ou não comentava (tenho comentado vários, cumprindo a minha "obrigação"), ou voltaria a fazê-lo com sentido ético, para haver sucesso na comunicação interpessoal.
Apetece-me felicitar-te pela oportunidade, pela reflexão tão serena, tão cheia de conteúdo, tão próxima da nossa infelizmente triste realidade.
É um elogio que te faço. Para mim um bom elogio, porque nasce do coração. É sincero e honesto. Dá-me prazer em fazê-lo, porque reforça a nossa relação e permite-me continuar "alinhado".
Tenho esperança que, um destes dias, ALGUEM te leve verdadeiramente a sério e vista o "fato de trabalho" - é pago para isso - para meter mãos à obra !
E é para continuar, João, porque assim terás sempre lugar no 5 inicial. E a modalidade saberá ser grata, acredita.
Aquele abraço.
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