Conheci o Jorge Adelino nos anos 80 do século passado nos campos de Basquetebol, onde havia de ser. Treinávamos equipas do mesmo escalão dos nossos clubes, como sucedeu durante muitas épocas, e defrontávamo-nos regularmente.
Eu era um jovem treinador em início de carreira e o Jorge Adelino, jovem há mais tempo, era já um treinador de jovens prestigiado e reconhecido como uma referência pelos pares, com um percurso consolidado no seu Algés (e mais tarde também no Benfica).
Nessa altura também integrava a Direção da Associação Nacional de Treinadores de Basquetebol (ANTB) a qual desenvolvia intensa, profícua e prestigiada atividade, que eu avidamente procurava acompanhar. Antes disso, nos anos 70, recordo-me de ver o Jorge Adelino jogar como base do Algés nas famosas e saudosas noites de 4 jogos no pavilhão da Ajuda, com as 8 melhores equipas de Lisboa.
Tive oportunidade de desenvolver uma primeira colaboração mais próxima com ele na época de 1988/89. O Jorge Adelino era Selecionador Nacional de Cadetes (Juvenis, na designação em Portugal na altura), juntamente com o saudoso Carlos Teigas e o Orlando Simões, e convidou os treinadores das equipas que tinham jogadores selecionados para, nos seus clubes, colaborar no trabalho de preparação da seleção ao longo da época. Na equipa que eu treinava estavam 2 jogadores e eu aceitei esse desafio com todo o entusiasmo e empenho. Foi uma experiência simples e muito enriquecedora de trabalho em conjunto, em que, pela primeira vez, tive oportunidade de acompanhar mais perto o trabalho da Seleção Nacional e que também teve bons frutos na evolução de todos os meus jogadores e nos resultados da minha equipa.
A partir daí desenvolveu-se uma longa e grande amizade em torno da paixão pelo basquetebol e pelo treino e que se estendeu a outras facetas da vida. Durante muitos anos, também com o Carlos Teigas já desaparecido, juntávamo-nos com muita frequência e regularidade para ver e falar de basquetebol e também conviver e falar da nossa realidade e conhecer outras experiências.
Partilhamos uma grande vontade de aprender com o Basquetebol que se praticava nos países mais evoluídos e muitas vezes fomos ao estrangeiro assistir a Campeonatos Europeus e outras competições de escalões jovens e também de competições de topo. Testemunhámos o surgimento e o percurso internacional de muitas estrelas do Basquetebol europeu (Nowitzky, Vujacic, Fotsis, Sergio Rodriguez, Belineli, LLul, Ricky Rubio, Teodosic, Diot, Datome, Bogdanovic, …) e vimos jogar excelentes seleções de jovens talentos, dirigidas por treinadores de referência. Passámos dias enfiados em bons pavilhões de bonitas cidades e também noutros bem modestos situados no “fim do mundo”. A sede de ver basquetebol era tanta que por vezes quase éramos os únicos espectadores de qualquer jogo entre o 15º e o 16º, enquanto não chegava a esperada final antes do imediato regresso a casa.
Claro que também acompanhamos muitas das competições nacionais e internacionais que se realizavam em Portugal. Desde fases finais de campeonatos distritais e nacionais, passando por jogos e torneios de preparação das Seleções Nacionais, até ao Mundial de Sub19 em 1999 e o Europeu de Sub16 em 1995.
Aproveitamos os muitos quilómetros que percorremos para conhecer e saborear as cidades, as paisagens, a gastronomia dos países por onde passamos.
A intervenção do Jorge Adelino como formador de treinadores, é permanente e diversificada na forma, muito vocacionada para o Treino de Jovens e para análise e reflexão sobre a qualidade da intervenção do treinador. Os exemplos que refiro de seguida mostram a exigência de qualidade e a responsabilidade que sempre coloca seja nos formatos mais complexos e expostos seja nos simples e discretos.
Enquanto quadro superior do Instituto do Desporto (nas suas diferentes designações) organizou muitas edições anuais do prestigiado Seminário Internacional de Treino de Jovens, com a participação de figuras de referência mundial nesta área. Em colaboração para a ANTB, nos anos 90, dinamizou e liderou a edição da série de fascículos “Aprender com os outros” (cuja preparação ao sábado de manhã, com o Teigas e comigo, culminava com uma prova de queijos), em que se publicavam artigos de treinadores estrangeiros de basquetebol, ou em 2012/13 escreveu dezenas de textos de reflexão a partir de frases de treinadores de referência, por ele escolhidas, para publicação no site da ANTB. É o autor do livro “As coisas simples do basquetebol” uma verdadeira “bíblia” onde eu e muitos treinadores de jovens fomos buscar ensinamentos fundamentais.
O Jorge Adelino é para mim, e para muitos outros treinadores e outras pessoas que com ele lidam mais de perto, uma referência, como treinador, como formador e pelo comportamento ético.
Como treinador de formação, não apenas pela visível qualidade do trabalho com os jovens jogadores, mas também pela forma exemplar como dirigia as suas equipas e os seus jogadores e como se relacionava com os outros treinadores e demais agentes. A preocupação com a correção dos pormenores da execução e o rigor na qualidade de intervenção do treinador são imagens de marca suas como treinador.
A disponibilidade para ajudar os outros treinadores que o procuravam e o empenho e a clareza na transmissão de conhecimentos, tornaram-no referência também como formador de treinadores no Basquetebol e noutras modalidades, especialmente nas matérias relacionadas com a intervenção do treinador.
O seu comportamento no Basquetebol e na vida constituem também para mim um exemplo ético de referência. Procurando, em tudo o que faz, ser sempre rigoroso e exigente, disciplinado e metódico, dizendo o que pensa, mas pensando sempre o que diz. Sabendo e demonstrando que o treinador tem de liderar e formar os seus jogadores, primeiro que tudo, pela conduta exemplar no cumprimento das suas tarefas e responsabilidades.
Sendo uma pessoa muito responsável e de convicções fortes, o Jorge Adelino quando se apercebeu que já não reunia todas as condições que entendia indispensáveis para realizar o trabalho de treinador com o entusiasmo e a competência necessárias decidiu por fim à sua carreira, após muitos anos de treinador de jovens (principalmente) no seu Algés e também no Benfica. Decisão que, aqueles como eu para quem ele é uma grande referência, respeitam, mas lamentam por considerar que ainda teria muito para dar ao Basquetebol. Claro que o bichinho está lá e não deixaremos de lhe lançar desafios que o entusiasmem e em que sinta que pode ser útil.
Para mim e para outros treinadores que conhecem e foram influenciados pelos ensinamentos e pela prática do Jorge Adelino é fundamental que os treinadores, especialmente os de formação, sigam o seu exemplo e se foquem no essencial: a prioridade à melhoria da qualidade do praticante, e em consequência disso o sucesso da equipa, e à transmissão de valores aos praticantes pelo exemplo.
Grande abraço meu amigo e companheiro Jorge.