“A crise é um momento de oportunidades.” Não gosto de frases feitas, sou avesso a chavões, nomeadamente quando a estes não correspondem a uma prática real e apenas servem para disfarçar ou mitigar a realidade.
No entanto penso que a crise, desde que sejam feitas opções certas, pode efetivamente ser um momento de oportunidades. Já o disse anteriormente, num dos meus artigos, diz-me onde gastas o dinheiro e eu dir-te-ei o que é importante para ti. A escassez económica e financeira obriga a sermos muito mais seletivos nas opções. Se o basquetebol souber nesta fase difícil da vida nacional em que os recursos financeiros diminuíram drasticamente investir de uma forma clara no minibásquete e nos escalões mais novos, quando sairmos da crise, teremos gerações a gostar da modalidade e estaremos certamente uns furos acima dos ou outros.
O futuro da modalidade não pode estar dependente da ausência de uma verdadeira estratégia, não pode estar dependente da tentativa erro, não pode estar dependente de uma navegação à vista. O futuro da modalidade, depende muito das opções que se fizerem, da estratégia escolhida assente numa filosofia na qual se acredita. O futuro da modalidade passa decididamente, por conseguir que as gerações mais novas gostem da modalidade.
Concordo com o Pedro Frade quando escreve: “Creio que parte da solução passa por fazer apaixonar os mais jovens pelo jogo desde pequenos. Como o fazer? Bom, essa é a parte complicada. Julgo que uma das soluções passaria por aumentar o número de jovens praticantes e conseguir que estes tenham sucesso ou melhor, que se sintam bem-sucedidos e se divirtam dentro do campo. Penso que este seria um bom primeiro passo para que o bichinho do basket se instalasse a longo prazo”.
Na frase transcrita pergunta o Pedro Frade, como o fazer? Repito! Não sou dono da verdade, nem dono das soluções, mas acreditem que se o universo do basquetebol, der atenção a este caminho e quiser investir neste sector decisivo para o seu crescimento e desenvolvimento, que ao fim deste anos de empenho no minibásquete, tenho algumas sugestões a fazer.
Comentários
Quanto ao San Payo Araújo só tenho de lhe agradecer a cruzada em prole da modalidade, um abraço amigo e grato. JD
Concordo 100% com o que disse. Eu trabalho nos Estados Unidos, eu conheço bem o sistema, em Portugal existem muitos obstáculos começando logo com os horários escolares, nós cá acabamos as aulas às 15:00/15:15 e os treinos começam às 15:30 (nos liceus) e por volta das 17:00 está tudo despachado, um dia de escola e o desporto. Claro que isto tudo implica mudanças profundas especialmente a nível governamental e com o pensamento que não é de hoje para amanhã, nem pode ser tudo de uma vez...mas o actual modelo está mais que ultrapassado e estamos todos em "coma" em Portugal em relação ao basquetebol (e não só) e só continuamos a ter basquete devido ao esforço de milhares de pessoas que amam o jogo e fazem-no pelo amor (e tudo o que implica) porque pouco mais existe para se agarrar. E não devemos esquecer que até existe já um passo importante, é que muitos dos municípios já tomam conta do parque escolar. Não é nada fácil mas a médio longo prazo é uma situação a pensar.
Vou dar-lhe a minha opinião em 3 pontos:
1- Não fique preocupado. Os românticos são (somos) uma espécie em vias de extinção.
2- Os países com a melhor formação desportiva da história da humanidade tinham ou têm por modelo de formação desportiva o desporto escolar (USA, ex-URSS, ex-Jugoslávia, ...).
3- Um dos melhores campeonatos de basquetebol Sénior a nível mundial é Universitário.
Cumprimentos
Passar o enquadramento desportivo atual para um cenário escolar era sem dúvida a solução ideal mas não como é feito o atual desporto escolar, de certo concordará.
Para mudar o modelo é preciso bastante tempo para dotar as escolas sobretudo da mentalidade necessária a esse trabalho.
Devo dizer-lhe que atualmente e infelizmente a maioria das escolas são mais obstáculo do que parceiro para o desenvolvimento desportivo principalmente em duas vertentes:
- os horários escolares
- as verbas elevadíssimas cobradas pelo uso das suas instalações desportivas a quem faz o desporto de formação.
Isto é uma realidade.
Cumprimentos
Então agora passamos a formação até pelo menos aos sub16 para as escolas? Os espanhois não percebem nada de basket, andam com clubes de bairro as costas com meia duzia de carolas ( para os mais desatentos há muito clube em Portugal que paga mais do que em Espanha para se treinar uma equipa) e dão nos mil a zero. Levem o Benfica, Barreirense ou Porto a jogar contra clubes de bairro da Catalunha para verem... Qualquer dia acabamos com isto e fazemos um campeonato sénior universitário.
Abraço
A oportunidade que vê no que é denominado como crise é algo tão lógico que, à partida, não devia ter nem discussão.
O problema é que o basquetebol, como tantas outras coisas, para muitos dos que têm a capacidade de tomar decisões, seja dentro da Federação, das Associações ou dos clubes é apenas um meio para atingir fins, de poder, de bem estar, de status social.
A dificuldade não está em fazer as crianças apaixonarem-se pelo basquetebol, isso é fácil e tem sido demonstrado por si nos últimos anos em todo o país. A dificuldade está em fazer com que muita gente com papel importante dentro da modalidade se apaixone pelo basquetebol ;)
Abraço
Mais uma vez parabéns pelo artigo. A crise não é nem nunca poderá ser desculpa para os erros que cometemos repetitivamente , concordo contigo que é uma oportunidade de ouro para, com pouco dinheiro, sermos mais objectivos onde gastamos o mesmo mas será que já não está na altura para todos pararmos e percebermos que este modelo global do basquetebol português não resulta? Podemos dizer que não resulta porque são as mesmas pessoas, os mesmos mecanismos, as mesma entidades mas o que é certo é que todos pactuamos com os mesmos erros. O que fazer? Respondo desta maneira, os Campos MVP todos os anos tem mais procura, mais lista de espera, mais "sucesso" num tempo de cada vez maior crise, talvez a solução não está nas pessoas ou nas entidades, a solução está na mudança do modelo e, agora ainda mais, continuo a dizer o mesmo: passem o basquetebol de formação pelo menos até sub-16 para as escolas. Polémico? não, apenas falta de coragem e talvez sair da zona de conforto...