As palavras são como as cerejas. O excelente artigo do amigo João Ribeiro sobre o basquetebol em Moçambique e a sua posterior influência no basquetebol nacional levaram-me a dar mais um contributo

para a reflexão sobre os caminhos que a nossa modalidade pode e deve trilhar.

Não somos um país de hábitos de prática desportiva. Este é mais um dos parâmetros em que estamos na cauda da Europa. O nosso sistema educativo escolar não proporciona nem estimula, nem do ponto de vista formal ou informal, hábitos de prática desportiva. A disciplina de educação física tem sido de novo cada vez mais subalternizada e relegada para segundo plano. Por um conjunto alargado de situações as crianças estão cada vez mais fechadas em apartamentos em frente ao computador.

Conseguir alterar este quadro depende como disse o João Ribeiro no seu artigo “Alinharmo-nos” de 3 de Janeiro, de decisões políticas para as quais parece haver cada vez menos sensibilidade. Que devemos fazer? Para responder a esta pergunta para além de evocar o fenómeno do minibásquete em Moçambique vou falar dum acontecimento que deveria ser um “study case” ou que no mínimo nos deveria levar a pensar.

O que é mais determinante no aumento da qualidade de uma modalidade é a prática, de jogos e treinos, formais e informais conjugada com o aumento do número de praticantes. È evidente que se a estes fatores estiverem associados técnicos qualificados a probabilidade de , e com grande pena minha, nunca estive em Moçambique, mas creio que o movimento do minibásquete em Moçambique e a paixão que este gerou, principalmente os torneios informais de rua não assentou certamente em técnicos muito qualificados. Nessa época, quer em Moçambique quer no Continente bastava ter sido jogador para se tirar o cartão de treinador. Os cursos para certificar os treinadores surgiram, e muito bem, tendo o basquetebol sido pioneiro, só depois do 25 de Abril de 1974.

Desgastamo-nos em discussões para encontrar modelos competitivos que ajudem a formação dos praticantes; e de repente uma equipa que não tem competição interna durante um ano inteiro, não tem oposição dentro da sua Associação onde existem apenas mais duas equipas incapazes de lhe fazerem oposição, consegue ser campeã nacional. Estou a falar da equipa Sub-14 feminina do CAB da Madeira. Os clubes do continente tiveram dezenas de jogos, tiveram competições com sucessivos apuramentos até chegarem à final, tiveram muito melhores condições competitivas de preparação para a fase final e chegam ao fim e perderam com o CAB Madeira.

Como surgiu esta equipa e quais são os antecedentes destas atletas? Para vossa reflexão deixo-vos em anexo dados de números de praticantes da Associação de Basquetebol da Madeira, que por iniciativa, insistência e coragem da sua presidente Sandra Rebolo tem apostado claramente no minibásquete, quer em quantidade de praticantes quer em quantidade de prática e da Associação de Basquetebol de Lisboa, onde está filiado o clube da minha simpatia o “meu” Carnide Clube, vice-campeão nacional de Sub-14 femininos da época anterior.

Que podemos fazer? Se calhar, pensarmos neste exemplo e encontrarmos formas de incentivar os clubes e estimular o aumento da prática e nº de praticantes no escalão de Mini-12, para que estes tenham muita prática e no mínimo em termos de praticantes este escalão seja em número de atletas superior ao escalão de Sub-14.

Anexo - Dados de números de praticantes da Associação de Basquetebol da Madeira