O título do artigo desta semana poderia direccionar o seu conteúdo para diferentes análises, mas seja qual for a abordagem que se entenda realizar, o exemplo do treinador,

o seu perfil, a sua responsabilidade e o seu contributo irão coloca-lo sempre como “um agente da mudança” ou um “líder de opinião”. Concretamente no Basquetebol, o Treinador tem desempenhado um papel determinante no desenvolvimento da modalidade, independentemente da zona do país de que estamos a falar. É minha a esperança de este contributo se mantenha por muitos anos.

Actualmente o Treinador está devidamente enquadrado e “legalizado” em decreto-lei, tendo deveres e responsabilidades bem definidas. Possuidor de uma cédula de técnico de desporto, o Treinador é hoje, pelo menos em Diário da Republica, um agente credível, com funções claramente definidas e com um estatuto devidamente regulamentado. Associado a este progresso importa referir que a sua associação representativa (ANTB) caminha para o seu quadragésimo aniversário, dando sinais de nova vitalidade, como é exemplo a edição do nº 50 da revista “O Treinador”. Que feliz sintonia.

Não querendo transformar este artigo num aglomerado de linhas saudosistas nem num somatório de linhas negativistas ou pessimista sobre a realidade actual e o papel do treinador, creio ser importante reflectir sobre o que realmente significa, actualmente, ser treinador no continente e ilhas. Ser Treinador em Monção, Lisboa, Aveiro ou em Olhão significa falarmos de contextos, filosofias, prioridades ou condições idênticas? Não, claramente. Existe algo que une os Treinadores enquanto agentes desportivos independentemente do local onde estamos a exercer as nossas funções? Estou convicto que sim.

Ser Treinador em diferentes locais do nosso território poderá conduzir a um manancial de atribuições, para além da direcção da sua equipa, tão díspares e tão importantes como percorrer, antes e depois de todos os treinos, um circuito de 20 km para transportar atletas, ou ter de lavar o equipamentos em casa; em contraste com simplesmente coordenar a actividade dos treinadores de um clube, podendo acompanhar e valorizar os treinadores mais inexperientes na direcção do treino e da competição. A disparidade de funções e a heterogeneidade de locais onde se procura desenvolver o Basquetebol, poderá conduzir a cenários que contrastem o treino crianças e jovens que pouco basquetebol terão visto ou praticado na sua iniciação desportiva, com, a direcção e a preparação de uma equipa de sub-16 cujo os seus atletas iniciaram a sua prática do Basquetebol no escalão de sub-8 possuindo perto excelentes modelos nos seniores.

No que toca a alinharmo-nos em prol de um Basquetebol melhor, o que poderá aproximar e valorizar um treinador que exerça as suas funções num clube situado numa vila ou aldeia de uma região do País, onde a única equipa de seniores existente milite na última divisão nacional nalguns casos poderá distar aproximadamente de 80 a 90 kms? O que significa ter sucesso em Bragança, Porto, Guarda ou Santarém? Como progride um treinador em cada uma desta zonas do país?

Urge recuperar e fomentar valores essenciais que dêem vitalidade à função de treinador. Reconhecimento e valorização das boas práticas, promover e valorizar o exemplo do treinador, a sua paciência, a sua persistência, a sua dedicação, paixão, competência; honestidade, capacidade organizadora, imparcialidade, entusiasmo, disponibilidade e muito mais, são exemplos do que poderá ser feito para, finalmente, tornar o Treinador alguém em quem se reconhece sabedoria, experiência, exemplo na conduta, mestre de aprendizes a seres humanos mais aperfeiçoados e evoluídos.

O papel e o reconhecimento de um treinador campeão nacional de sub 14 ou sub 16, em contraste com treinadores que deram muito de si para que o Basquetebol fosse visível em locais com pouca tradição e história na modalidade, deveriam contemplar iguais momentos de reconhecimento, embora com prémios diferenciados. O melhor troféu para um treinador ou clube poderá passar por mais e melhores condições de trabalho, ou um atleta a representar uma seleção distrital ou nacional, enquanto para outros poderá significar mais títulos e mais vitórias. Ambos deverão ser reconhecidos e incentivados a continuar as suas boas práticas e influenciarem positivamente os seus dirigentes para a importância da actividade desportiva, para a formação desportiva e para o contributo do Basquetebol nesse sentido.

Ao Treinador português deixo a ilusão de que ainda vale a pena ser treinador. No treinador está esperança de que os nossos atletas sintam gosto pela prática, pelo treino, pela aprendizagem e pelo aperfeiçoamento dos conteúdos específicos da sua modalidade. A quem dirige a modalidade um apelo para que a figura do Treinador possa constituir um aliado forte para revitalizar o Basquetebol em Portugal. Ao treinador deixo ainda o apelo para que exerça a sua actividade em sintonia para com a missão e responsabilidade de ser um exemplo positivo e um modelo de conduta enriquecedor na educação de um jovem, futuro ou não, desportista de topo.