O Torneio Nacional de Sub-14, agora designado de Campeonato Nacional de Sub-14 já leva uns anos de existência no que ao seu modelo competitivo diz respeito.

Perante um país assimétrico no que respeita à distribuição da modalidade pelo território nacional, o formato procurou possibilitar a mais clubes e a mais associações distritais estarem representadas numa prova de um escalão em que muitas opiniões procuram compará-lo com os escalões seguintes, onde o princípio básico é iniciar a especialização.

Se recordarmos um passado não muito longínquo, o escalão de sub-14 designava-se de Iniciados. Nome com raízes pedagógicas significa isso mesmo, iniciação à modalidade. No século passado o Minibasquete passou por fases menos dinâmicas, sendo o escalão de iniciados um escalão de captação por excelência. A iniciação à modalidade fazia-se (e ainda se faz) em contextos de heterogeneidade grande, onde atletas com 3 a 4 anos de prática aprendiam o jogo juntamente com atletas que tinham meses de prática. Se em muitos clubes com tradição esta lógica foi sempre contrariada por captação, seleccionando, em clubes oriundos de zonas onde a modalidade estava menos desenvolvida , o escalão de Iniciados significava em muitos casos o primeiro contacto com o Basquetebol.

No contexto atual da nossa modalidade e em associações menos representativas, o escalão de sub-14 é um escalão de captação / iniciação. E nesta iniciação quais serão as prioridades? Ganhar? Ou fidelizar e construir algo? Também em zonas mais representativas, apesar de existirem mais praticantes, o escalão de sub-14 é espaço aberto para quem principia a prática do Basquetebol. Também aí se constrói?

Em resposta às questões anteriores, não posso pensar de outra forma que não seja a de que todos os treinadores de “Iniciados” se preocupem em construir, entendendo os resultados desportivos como um excelente meio de avaliação qualitativa do seu trabalho e da resposta dos seus jogadores aos estímulos inerentes a objectivos de ensino e não exclusivamente treino e “rendimento”.

Ganhei, mas os meus jogadores já fazem…ou ainda não conseguem…; perdi mas consegui que determinado aspeto do jogo se expressasse mais vezes…” (In Caderno do Treinador, edição pessoal).

Nesta lógica voltamos a questionar qual o significado dos resultados em competições de sub-14? Haverá uma relação lógica, ou entenda-se linear, entre a quantificação do equilíbrio ou desequilíbrio nos jogos e o nível dos atletas? Creio que, não descurando a importância dos números, carecerá a avaliação, de uma prova desta natureza, de algumas premissas importantes:

• A primeira tem a ver com uma questão central - O que queremos com as nossas competições de iniciados? Equilíbrio em todos os jogos? Será isto possível? Derrotas pesadas em mais de 30% dos jogos realizados? Se conseguirmos responder a esta questão dizendo que queremos colocar mais miúdos de idade sub-14 participar efectivamente e queremos criar condições para que eles se fidelizem, então teremos igualmente uma base maior de praticantes disponíveis para aprenderem o jogo e os seus fundamentos. Proporcionarmos várias competições, com formatos e motivações diferentes, muito provavelmente constituirá uma motivação acrescida capaz de servir as necessidades do praticante.

Se por outro lado entendermos que a competição de sub-14 deve proporcionar experiências semelhantes às dos adultos, ou eliminar equipas com frequência, então poderemos ter de lidar com as consequências de, no escalão de sub16 os menos participativos poderem abandonar a modalidade sem nunca terem visto reconhecidos os seus progressos, em situação de jogo.

Ainda no que respeita às competições, existir heterogeneidade entre equipas não é de todo negativo, sabendo o treinador encontrar oportunidades para que os seus jogadores, com necessidade de mais tempo de contacto com o jogo, desfrutem dessas mesmas oportunidades em ambiente favorável a aprenderem jogando.

• Uma segunda premissa prende-se com a necessidade de caracterizar o jogo que praticam os nossos sub-14. Analisando o jogo praticado em jogos equilibrados, associados a momentos de decisão de “Títulos”, bem como o jogo praticado em jogos desequilibrados. Ao treinador compete o primeiro diagnóstico, para melhorar o processo de ensino-treino e aprendizagem. A quem reflecte sobre a modalidade compete igualmente avaliar os efeitos de uma competição e propor ajustamentos ou alterações.

Assumir a Ideia de que a competição só será útil se proporcionar permanente equilíbrio entre equipas, parece redutor. Assumir, numa prova nacional, que encontrar apenas um campeão nacional ou um vencedor poderá ser igualmente redutor e pouco estimulante para o jovem competitivo por natureza.

Pensar na avaliação do jogo praticado pelos sub-14 significa, opinando, avaliar através de indicadores que possibilitem relacionar, por exemplo, o que se vê em jogos de sub-14 e os conteúdos e prioridades preconizados pela Escola Nacional de Basquetebol para treinadores que dirigem equipas de sub14 e sub 16. Aqui se referem algumas sugestões:

• Nº de jogadores utilizados e distribuição do tempo de jogo por esses mesmos atletas;
• Como finalizam os sub-14? Em contra-ataque ou em ataque de posição? Debaixo do cesto, com reportório variado, etc.;
• Quantificar as decisões dos jogadores: toma decisões ou não; boas e oportunas decisões ou inadequadas e fora de tempo;
• Como se organizam as equipas? Conceitos simples, ajustados ao nível dos jogadores?

Provavelmente o registo destes dados deverá ser analisado em jogos desequilibrados e equilibrados, possibilitando identificar ambientes mais ou menos favorecedores de aprendizagem.

A conclusão desta reflexão direcciona a intervenção junto dos sub-14 numa perspetiva qualitativa e de pensamento posto no futuro jogador sénior que tanto queremos que seja melhor e não tanto na equipa ou clube que ganha mais campeonatos.

Na realidade dos Estados Unidos, onde o desporto tem uma vertente competitiva acentuada, existem vários vencedores e várias motivações para o sucesso. Seremos capazes de fazer uma “Cópia” ajustada deste modelo?