Através dum amigo que esteve a trabalhar na história do Clube Nacional de Natação chegou-me às minhas mãos o “Relatório de contas da gerência e parecer do conselho fiscal e relatório e pareceres do conselho técnico”

de 1948 da Associação de Basquetebol de Lisboa. Ora esse foi o ano em que os meus pais, ainda ambos vivos, casaram e sendo eu o mais novo de três irmãos, fácil é ver que nesse ano ainda não andava por cá. Como mera curiosidade, ainda me lembro de ter ido à Associação de Basquetebol de Lisboa, situada então na Rua Jardim de Regedor nº 5 4º Lisboa, ao contrário de hoje, bem no coração da cidade.

Da leitura atenta do relatório duas coisas me saltaram à vista em primeiro lugar o rigor e minúcia dos números do relatório de contas; mas mais do que isso foi o parecer do conselho técnico que me fez pensar como passados mais de 65 anos estamos a discutir sempre as mesmas coisas. A recorrência dos assuntos é quase assustadora e temo que seja a antevisão de futuras discussões. Eu bem sei que o contexto e as realidades são outros, mas não deixa de ser impressionante, que com outra linguagem, outra roupagem, no fundo estamos hoje em dia a discutir muitas das coisas que se discutiam em 1948 e passo a transcrever algumas passagens do referido parecer do conselho técnico, órgão este que corresponde actualmente á direcção técnica. De realçar que os subtítulos das passagens são de minha autoria.

O problema das inscrições

“Com pesar informamos que ainda não foi possível remover todas as dificuldades postas pela Direcção Geral dos Desportos ou Mocidade Portuguesa, para disputa do campeonato distrital na categoria de juniores. (…) Assim quando fomos apresentar cumprimentos ao Exmº Senhor Director Geral dos Desportos, um dos assuntos tratados foi a realização do referido campeonato, tendo então, Sua Exª, prometida toda a sua boa vontade na resolução deste assunto.

Infelizmente como é do conhecimento dos Clubes, até ao presente, não foram alteradas as exigências feitas quanto ao preenchimento das fichas médicas dos jogadores juniores que, na sua maioria, têm sido devolvidas pela Direcção Geral dos Desportos.”

O problema das arbitragens

“O problema das arbitragens, continua a ser aquele que mais carece de resolução urgente para o prestígio e aperfeiçoamento técnico da modalidade. Os árbitros existentes são poucos e na maioria falta-lhes competência técnica. (…) Para obviar este mal, solicitámos da Comissão Disrital de Árbitros e Cronometristas de Basquetebol que nos informasse quais os prémios que considerava suficientes, tendo em atenção as possibilidades dos Clubes, no sentido de alargar o quadro de árbitros e dentro do possível fazer escola para melhor aperfeiçoamento técnico”.

O problema da comunicação social

“A imprensa é a “pedra de toque” do desenvolvimento de qualquer modalidade desportiva e desejaríamos que à semelhança do que sucede com os jornais do Porto, a imprensa de todo o país, e em especial de Lisboa patrocinasse a vida desportiva da modalidade representativa de uma dos mais correctos e melhores desportos, digno de todos os incentivos e de todos os estímulos.”

Volto a repetir uma expressão dum artigo recente, “no mínimo curioso”, verificar como os problemas são recorrentes e como, exceptuando, a primavera marcelista e o período pós-25 de Abril, quer a ditadura, quer a democracia conseguem por entraves ou políticos ou administrativos à prática desportiva.