No final das intervenções do Mário Modéjon e da Emma Gonzalez em Alcains realizadas no Torneio da Associação de Basquetebol Albicastrense, perante uma audiência em que estavam encarregados
de educação dos minis de clubes espanhóis e portugueses, fui convidado a falar. Comecei a minha intervenção com uma pergunta que dirigi, primeiro aos encarregados de educação espanhóis e depois aos portugueses. A pergunta foi a seguinte: Onde é que os minis em Espanha praticavam o minibásquete e a que horas chegavam a casa.
A resposta dos pais espanhóis foi: - No colégio onde por voltas das 17.00 horas vamos buscar os nossos filhos para ir para casa.
A resposta dos pais portugueses foi: - Nos clubes e temos de ir buscar os nossos filhos à escola levá-los para o treino, que começa sempre depois das 18.00 e chegamos a casa por volta das 20.00.
Aproveitei a ocasião para bem em frente dos pais das crianças espanholas elogiar os pais portugueses e recuperar uma ideia transmitida num artigo intitulado “Atestado de menoridade” no qual dizia que “os pais que proporcionam uma actividade desportiva aos seus filhos são uns verdadeiros heróis. Muitos têm que sair dos seus trabalhos para irem buscar os filhos à escola levarem-nos para os treinos num enorme dispêndio de tempo e energia. Se a este esforço associarmos o transporte aos fins-de-semana para os jogos e o facto de praticamente todos os praticantes de minis pagarem uma mensalidade, que ajuda a sustentar a existência dos clubes, só podemos estar gratos aos pais”.
A estes factos ainda temos de acrescentar, que quando chegam a casa ainda tem de fazer o jantar, verificar se os trabalhos da escola estão feitos, no início da época levarem os seus filhos aos médicos e preencherem uma série de documentos, tarefas que se os seus filhos praticassem o mini na escola não teriam de realizar. Estamos mesmo perante super-pais e como já referi aqui, são nestas diferentes condições, que começam as grandes diferenças na formação desportiva entre Espanha e Portugal.
Contudo, depois de ter feito este rasgado e merecido elogio aos pais portugueses dei, como se costuma dizer, uma no cravo e outra na ferradura. Peguei nas palavras, que tinha acabado de ouvir, e relembrei que numa actividade desportiva colectiva bem orientada, primeiro estávamos a formar pessoas, depois estávamos a formar pessoas inseridas num grupo e finalmente estávamos a formar desportistas.
Quando estamos a formar jovens inseridos num grupo a palavra-chave, dá pelo nome de compromisso, e aqui, há muitos pais dos minis portugueses, falo pela realidade que vou conhecendo no país inteiro e voltarei a este tema em breve, a falar.
É evidente que não podemos meter todos no mesmo saco. Os minis não são autónomos, dependem dos pais para comparecerem aos convívios e torneios de minibásquete, e aí quantas vezes depois dos seus filhos estarem convocados, não aparecem e pior do que isso nem sequer avisam que não vão levar os seus filhos aos jogos, prejudicando não apenas o trabalho dos treinadores, mas acima de tudo, desrespeitando, o compromisso que se assume ao estar num desporto colectivo, com os seus companheiros de equipa, que ficam por vezes sem poder jogar. Cada vez mais acredito, que em termos comportamentais, a melhor maneira de ensinar é através do exemplo.
Comentários
Muito ao contrário de "palavras, leva-as o vento", oxalá este brilhante artigo do San Payo e o esclarecedor comentário do pai Pedro Martins (bem haja !), também não caiam em saco rôto, como contributos para dar corpo e alma a um célebre ditado irlandês :"antes de sabermos para onde vamos, temos de saber primeiro onde é que estamos."
Apetece-me dizer que com reflexões destas, conhecida a realidade de nuestros hermanos, se percebe, então, claramente o abismo, o porquê das
grandes diferenças na formação desportiva entre Portugal e Espanha.
Somos (continuamos teimosamente a ser) realmente um país complicado e esquisito !
Irrita-me , mas irrita-me muito todas e mais algumas desculpas que se dão para não levar os filhos aos treinos ou aos jogos, quando se percebe que a actividade desportiva é uma enorme ajuda em todos os sentidos ao seu desenvolvimento , inclusivé, veja bem, escolar. A melhoria de notas na escola, depois de terem começado a praticar desporto, é uma evidencia.
Aqui não se trata de serem campeões, trata-se de um investimento pessoal nosso, os pais, em criar os filhos de forma saudável, socialmente evoluidos com o respeito pelos colegas, adversários, arbitros, e todos os envolvidos no meio.
Cumprimentos