Voltar a escrever e a colaborar com o Planeta Basket e particularmente com o meu Amigo Ivan é, genuinamente, uma vontade que me assiste enquanto amante incondicional do Basquetebol. Vivemos um período difícil, onde parece que estamos a competir com um adversário

onde o scouting é feito dia a dia não o permitindo que o anulemos definitivamente. Sabendo sim que o adversário facilmente se adaptará e poderá mudar a sua estratégia, o que naturalmente nos obrigará a estarmos despertos e predispostos para mudar.

Também me parece que este adversário é mais inteligente do que pensamos, o que pressupõe que ter-se-á preparado muito bem para que esta sua primeira aparição pandémica obrigasse a um confinamento efectivo. Mas mais do que isso parece ter obrigado todos a pararem de competir, seja a que nível for e naturalmente obrigando-nos a cooperar para vencermos este forte constrangimento que nos tem abanado.

Já há muito tempo que acredito que a cooperação aparece antes da competição, precisamos de cooperar para claramente sabermos o que queremos, para onde nos direccionamos e que produto queremos apresentar. Basta ver a NBA, perceber a sua história e identificar claramente a linha de actuação de cada um dos seus momentos marcantes, mesmo com muitas imperfeições e algumas incoerências pelo meio. Mas certo é que se tomaram decisões.

O nosso Basquetebol, enquanto modalidade desportiva que nos apaixona e move, não foge à regra, pelo que o grande propósito que me move para voltar à escrita se prende com um dever para com a modalidade. Ou seja, desinteressadamente colaborar expressando opiniões, sugestões sobre o Basquetebol, sempre na perspectiva de podermos voltar a jogar para um futuro melhor.

E ao jeito de Treinador de Basquetebol, nada como iniciar com a “Filosofia” desta colaboração. E nesse sentido, começaria por referir que me vou recorrer do princípio da Utopia, entendida como algo que ainda não foi realizado e não como pensamentos ou devaneios que se entendam serem impossíveis. Essa impossibilidade decorrerá naturalmente do facto que se querer ou não reflectir, pôr em causa e, eventualmente, levar algumas coisas até aos locais de decisão. Não havendo nesta filosofia verdades únicas, mas percepções e entendimentos por parte de quem as escreve, que neste momento são convicções.

No presente há muita coisa que não podemos fazer efetivamente: não podemos dirigir treinos, preparar e dirigir equipas em competição, não podemos ensinar o jogo. Mas podemos efetivamente parar e pensar no que queremos para a nossa modalidade. E enquanto seu agente, parece-me que este é o momento oportuno para o fazer, mesmo utopicamente.

O efeito futuro da pandemia em que vivemos ainda nos é desconhecido, e por muito que se antecipem cenários negros (que provavelmente poderão acontecer), também se podem antecipar cenários optimistas que possam inspirar ou ajudar quem decide a encontrar um caminho, que naturalmente será diferente do actual. Colaborar opinando nesse sentido é o meu propósito. Percebendo-se que, como já afirmei, não existem verdades únicas.

É comum que a legitimidade para opinar, dar pareceres, profetizar às vezes, ou simplesmente posicionar-se sobre determinada matéria ou assunto, seja dada a figuras de referência da modalidade, que no seu dever formativo e construtivo, são convidados a fazê-lo. Neste sentido, gostaria desde já de me posicionar como um outsider. Creio, que é um dever, mais que um direito que nos assiste, o de podermos contribuir, nem que seja para que quem decida saber claramente para onde não quer direccionar a sua intervenção. Enquanto Treinadores, agentes de mudança, é-nos dada a responsabilidade de podermos expressar civicamente e construtivamente essa vontade de mudar. Influenciando positivamente para se mudar.

Para que não entenda este primeiro artigo apenas como uma tomada de posição, gostaria de dizer ainda que, em colaborações futuras, me pronunciarei sobre temas que me parecem decorrer, para já, de preocupações latentes, como sejam:

• Que impacto terá na modalidade, nomeadamente na captação e fomento e na formação desportiva, esta paragem brusca?
• Se quisermos abordar esta paragem de uma forma simbólica, o que nos pedem as circunstâncias que façamos para que o regresso a uma “normalidade” diferente seja promotor de um Basquetebol melhor?
• O que poderá ser uma mesa redonda com pessoas a pensar sobre a modalidade? Que pensamentos surgirão? Como veremos o todo? Que prioridades?

Para já, simbolicamente, entendo que o cenário pandémico em que vivemos, ao nível do nosso desporto e particularmente da nossa modalidade se assemelha ao agricultor que a pouco tempo de poder colher o resultado da sua sementeira se vê impedido de o fazer devido a uma praga que invade os seus campos e as suas plantações. Após o natural desespero, que é ver as “competições canceladas, os treinos interrompidos, as despesas que se mantêm e a incerteza que aumenta”, urge sentar-se e pensar como poderá aproveitar ainda alguma coisa da sua sementeira e como terá, obrigatoriamente, de reconfigurar e reorganizar os seus campos para melhor semear quando isso lhe for possível.

Não tenho dúvidas que as entidades que regem os destinos do Basquetebol terão essa preocupação neste momento. E é com base nessas preocupações que o atrevimento escrito dá vida a estes artigos, partilhando a utopia de entender este momento como uma oportunidade e menos como um momento onde iremos sair com remendos e direccionados simplesmente para o que fazíamos anteriormente.

Não obstante tudo o que se possa recuperar do Basquetebol AC (antes do Corona Vírus) haverá um Basquetebol DC (depois do Corona Vírus), e esse Basquetebol poderá ter na sua essência contributos para que seja melhor, sem a ambição cega de subir em rankings de modalidade, mas com a certeza de que possui características e pessoas que poderão marcar positivamente o Desporto Português.

Importa recordar que o Basquetebol no seu Historial deu fortes contributos para o desenvolvimento do Desporto Português. E não foram propriamente títulos ou medalhas, mas uma filosofia inovadora e inspiradora de muitos dos sucessos que temos tido ao longo dos tempos.

É com esta fonte inspiradora que me atreverei a escrever no Planeta Basket.