Os clubes têm que ter a capacidade para formar jogadores, em termos qualitativos e quantitativos, no entanto existe sempre a possibilidade de ir buscar atletas a outros clubes. Em Portugal, por vezes parecemos que estamos sempre,
em alguns assuntos, ao contrário do resto da europa.
No que diz respeito aos clubes de formação e o facto de puderem ir recrutar atletas de outros clubes, estamos a passar uma fase de total anarquia.
Como treinador e coordenador de projetos desportivos na área do basquetebol, tenho diferentes opiniões sobre este assunto. Talvez por já ter trabalhado em contextos 100% profissionais em termos de formação, percebo os diferentes pontos de vista, os dos clubes que recrutam, os dos clubes que perdem atletas, mas a conclusão que tirei é que o recrutamento de jogadores é inevitável, em qualquer contexto e pais, o que pode ser evitável são as regras como se faz.
Quando regressei a Portugal nem queria acreditar quando me disseram que neste momento não existe nenhuma regra em termos de poder recrutar jogadores de formação e que a sua passagem de um clube para outro era totalmente livre.
No meu entender esta medida é uma de quem não quer pensar a modalidade e que não quer proteger a modalidade.
Os clubes que formam, porque apostam em bons treinadores, apostam em boas condições de trabalho tem que ser compensados pelo seu trabalho, mais, o recrutamento “selvagem” sem regras, em qualquer zona do país, só faz com que se crie um injusto desequilíbrio entre clubes, entre nível de competição entre nível de jogadores.
Muitas das vezes, os clubes com mais força de atração recrutam os jogadores à sua volta para ter um plantel com 12 jogadores, e na realidade do 9º ao 12º quase não são usados, criando dois problemas graves: o “secar” das equipas à volta dentro da sua competição e o estagnar dos atletas que no seu clube de origem jogariam e desenvolviam-se dando também mais qualidade aos seus colegas e à competição interna e externa.
Repito, o recrutamento de jogadores de formação é um processo natural e deve acontecer, o que não pode acontecer é um sistema que cada vez mais permite uma desigualdade entre equipas, beneficiando sempre os mais “fortes” em detrimento dos mais “fracos”.
Parte também pode ser culpa dos próprios clubes que não são atrativos ao ponto de os jogadores desejarem ir embora, mas muitas situações não se predem com este fator, e apenas com o desejo de um atleta, que é válido, ser campeão mesmo que não jogue.
Já escrevi neste site um artigo sobre como se processa o sistema de transferências em Itália, onde os clubes formadores também perdem jogadores para os maiores clubes, mas, com um senão muito importante, é que os clubes formadores irão sempre ser compensados financeiramente para o resto da vida do atleta, enquanto este jogar.
Se desejar ler este artigo, basta clicar no seguinte link:
No meu ver, visto que temos que adaptar à nossa realidade, o sistema atual não ajuda o desenvolvimento da modalidade, antes pelo contrário, sendo assim eu inseria uma regra muito simples, uma limitação por escalão, de cada clube, do número de atletas que podiam ir buscar a outros clubes dentro da sua associação, e outro limite fora da sua associação (podem sempre existir atletas que mudam de residência).
Temos que caminhar para dois sentidos, um de tornar o basquetebol de formação mais abrangente em todo o pais, de norte a sul e este a oeste, o segundo se criar regras que possam torna-lo mais justo e equilibrado para todos e, no fim, os mais fortes serão sempre os mais fortes, mas pelo menos serão mais forte com um mérito diferente e não porque recrutam todos os jogadores à sua volta, limitando os campeonatos em 2 ou 3 equipas, com assimetrias incríveis em termos de resultados.
Nuno Tavares
+351 968 341 414
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M&M
Comentários
Clubes apostam na formação, mas por vezes não dão o devido valor a quem trabalha com esse escalão. Clubes por vezes só pretendem atletas de outros clubes em que atletas sejam as mais influentes. É a realidade. Já passaram muitos atletas no escalão mini e sub 14, que por vezes têm dificuldades em integrar na equipa.
É necessário motivar esses atletas para que consigam progredir e apostarem na sua formação.
As equipas são um grupo de 10 ou mais atletas e não só 4 ou 5.
Para haver competitividade nos campeonatos há que apostar na base da boa formação.
Defesa a campo inteiro em todos os jogos e não meio campo para realizar a defesa (tipo zona que agora chamam).
Ensinar jovens a começar do 0, custa muito. Muitas horas de trabalho, muita dedicação, e depois para q?
Faz todo o sentido definir regras, mas gostava de deixar a seguinte ressalva para que não sejam nefastas.
A limitação deveria estar associada a jogadores que já representaram ou foram chamados a seleções distritais e nacionais, porque são esses os cobiçados. Os restantes deveriam ter o direito de mudar de clube, seja porque mudam de residência, mudam de local de estudo, ou outro factor.