O modelo espanhol
 
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O modelo espanhol

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Juan Carlos NavarroO basquetebol espanhol atravessa um dos seus melhores períodos da sua história, sendo a conquista do campeonato europeu de seleções prova disso.

Para quem acompanha o basquetebol como eu há mais de 20 anos, mesmo sem querer tomar muita atenção, não me é indiferente o crescimento do basquetebol espanhol. Para um simples adepto da modalidade, talvez o que salta mais à vista é a conquista do campeonato do mundo em 2006 ou do campeonato da Europa em setembro passado, mas todo o trabalho para trás que foi feito até à final com a França é de tal forma, que lhes dá os argumentos suficientes para estarem lado a lado com o basquetebol norte-americano.

Quando este artigo começou a ser trabalhado, a primeira ligação que fiz entre os atuais campeões da Europa, vencedores campeonato do mundo (2006) e finalistas dos jogos olímpicos e a qualidade do seu basquetebol, levou-me a 1999 e a Portugal, estando a falar do campeonato do mundo de juniores.

Antes da 6º edição começar, os grandes favoritos eram os Estados Unidos da América mas com o andar da prova, a equipa espanhola começou a sobressair e a dar provas que poderia discutir o título, mesmo assim, no dia 25 de julho, dia da final, antes da bola ao ar muito poucos dos mais de 12.000 mil espetadores que enchiam o pavilhão atlântico acreditavam que a seleção de Espanha iria sair vencedora.

Passados 12 anos é mais fácil perceber a razão pela qual essa final foi vencida pela equipa espanhola, pois se olharmos para o plantel podemos ver os nomes de Filipe Reyes, Carlos Cabezas, Raul Lopez, Juan Carlos Navarro ou Paul Gasol.

Este processo todo teve o seu maior impacto em 1992, quando a cidade de Barcelona foi escolhida para realizar os XXV jogos olímpicos da era moderna. Este evento veio transformar por completo o desporto em todas as áreas, contribuindo para o incremento do número de instalações desportivas e a qualidade dos profissionais e das suas infraestruturas, esta “revolução” não só estava direcionada para a competição mas na melhoria do dia a dia da sua população. Ao contrario do péssimo investimento feito em infraestruturas desportivas no euro2004 em Portugal, este não aconteceu em Espanha depois de Barcelona 1992, pois atualmente todos os centro desportivos criados nessa altura ainda tem utilização no presente.

Este melhoramento no desporto veio contagiar todos os desportos, e o basquetebol não foi exceção.

O organismo máximo do basquetebol em Espanha é a Federação Espanhola de Baloncesto dividindo o pais em 19 “Autonómicas” (equivalente às nossas associações) é aqui que encontramos logo as primeiras diferenças com o nosso país. Espanha tem uma área de 504.030 km² enquanto Portugal tem uma área de 92.090 km², sendo assim, Espanha possui 19 associações para a área acima referida e Portugal possui 21 associações para menos de ¼ da área de Espanha, fazendo com que exista em Espanha um melhor aproveitamento das associações em prol da modalidade e da sua cobertura em termos de área.

Depois de uma melhor distribuição das associações pelo território, o segundo fator que posso salientar é a formação dos treinadores, formação esta que tem sido uma das responsáveis pelo sucesso do basquetebol espanhol. A Associação de treinadores de basquetebol de Espanha (A.E.E.B) é a maior associação de treinadores desportivos do mundo, ultrapassando já mais de 3 mil associados, estando relacionada institucionalmente com a Federação Espanhola de Basquetebol (FEB) e com o Conselho Superior de Desporto (CSD) em Espanha, e com a Federação Internacional Basquetebol Associação (FIBA) e com a Associação Nacional de Basquetebol (NBA). Mais importante do que isso é o seu trabalho em permanência com as comunidades autónomas, os concelhos provinciais e as câmaras municipais de modo a que possa melhorar ou promover o basquetebol. Esta estrutura faz com que o basquetebol de formação tenha uma série de organizações que trabalhem para o seu melhoramento, e isso ficou muito claro depois do verão de 2010, verão este que deu a Espanha os seguintes títulos de seleções de formação:

Medalha de bronze – Seleção de Sub-16 masculina (campeonato da Europa) e Seleção de Sub-18 feminina (campeonato da Europa);

Medalha de Prata – Seleção de Sub-19 feminina (campeonato do mundo)

Medalha de Ouro – 3x3 feminino (mundial), seleção de Sub-16 feminina (campeonato da Europa), seleção de Sub-18 masculina (campeonato da Europa), seleção de Sub-20 masculina e feminina (campeonato da Europa).

Todas estas estruturas atrás referidas fazem com que a formação em Espanha seja uma máquina muito bem oleada, onde se pensa a longo prazo, com os jogadores jovens a serem trabalhados para se poder tirar frutos 3 a 4 anos depois, e não pegando naqueles que no momento são muito bons mas que depois não evoluem dentro dos parâmetros definidos.

Gostaria de fazer referência ao artigo de San Payo Araújo , Reforçar convicções, quando às paginas tantas refere o seguinte:

“Deixem-se de sonhar em resultados internacionais, enquanto não tiverem 45.000 praticantes de minibásquete” é a frase de Josep Bordas que ficou a ressoar na minha cabeça e que só veio reforçar e de que maneira as minhas convicções.

Somos bem capazes de ter 45 mil praticantes de minibásquete! Temos pessoas mais que qualificadas e dispostas a trabalhar com este número! Podemos tornar o basquetebol uma modalidade de sucesso a todos os níveis! Podemos dar trabalho a treinadores, diretores, fisioterapeutas, árbitros e outros intervenientes da modalidade!

Não temos que ser, nem imitar Espanha, temos sim que aprender com eles, ouvi-los e adaptar-mos ao que temos, e deixo a pergunta: porque não o fazemos?

*Este texto está redigido segundo o novo acordo ortográfico

 

Comentários 

 
0 #4 Henrique Sobreira 28-10-2011 14:52
Excelente artigo.Permitam-me que opine: quando em meados da década de 90 participei no Xirabásquete (fui atleta das camadas jovens da Ovarense) e apanhámos uma tareia do Caja San Fernando, eu e os meus colegas de equipa decidimos, enquanto assistíamos aos outros jogos, perguntar aos jogadores do Caja qual era o método de treino deles. Resposta: viviam todos juntos (iam a casa ao fim-de-semana), os horários das aulas eram em função dos treinos (bi ou tri-diários...) e quem não tivesse aproveitamento escolar não jogava...Querem ter resultados em Portugal? Então implementem este método ao nível dos clubes (nem que seja 15 anos depois...). É claro que o nosso país tem o problema crónico de não ter jogadores altos, mas se, ao nível do treino, a mentalidade mudar, então poderemos diminuir a diferença de estatura! Ah, e esqueçam a mania de pôr miúdos a jogar sempre a poste só porque têm 1,85 aos 12 anos. nessa idade, rodem-nos pelas posições todas até perceberem qual a posição adequada.
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0 #3 Francisco Paiva 26-10-2011 22:41
É Pau Gasol e não Paul Gasol.
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0 #2 João Ribeiro 26-10-2011 21:41
EU diria mais: porque razão não queremos fazer? O que nos faz resistir tanto à mudança? E o que nos faz usar tanto esse argumento para depois efetivamente não fazer nada para mudar.
Conhecer os modelos de desenvolvimento dos outros, ou daqueles que atingiram o sucesso é importante, mas teremos de usar o distanciamento suficiente para não nos deixarmos iludir na ideia que assim haverá sucesso garantido.
Necessitamos de 45 000 minis? Não. Necessitamos de perceber que o alargamento da base é imprescindível se quisermos pensar nos mais aptos daqui a 4 ou 5 anos. A formação dos treinadores também é importante, mas estudar o nosso jogo ainda o é mais. E isso os espanhóis fazem-no melhor que ninguém. Para ganharmos a credibilidade da vontade política não temos de solicitar fundos europeus, senão o dinheiro que recebemos nunca será suficiente para atingirmos a excelência. Façamos pequenas coisas, mas pensadas. Pensemos e façamos
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0 #1 San Payo Araújo 26-10-2011 20:33
Caro Nuno

Agradeço a referência ao meu artigo. No entanto tenho consciência que a meta proposta pelo Josep Bordas para podermos sonhar com resultados internacionais é no actual contexto impensável, não apenas pelo período crítico que vivemos, mas acima de tudo porque para se alcançarem tais números o minibásquete teria de estar como em Espanha, não nas mãos dos clubes mas nas escolas.

Mas no contexto actual, o que pelo menos o universo do basquetebol poderia fazer, era alargar a sua base dos sub 12 de forma a que este fosse o escalão com mais praticantes no basquete e não os Sub 14, por outras palavras não estou a pedir 45 000 estou para já a pedir 10% desse número 4.500.

Com este número jde Sub-12 já o escalão seria o com mais praticantes do basquetebol pois os Sub-14 tiveram na última época 4119 praticantes. .
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