Penso abordar proximamente o tema “Trabalho de Desmarcação” e, em função disso, parece-me que devo voltar ao tema apresentado em “Bola ao Cesto”, na edição n.º 50,
sobre o Ensino do Jogo no Minibasquete, desenvolvendo aspectos não focados na altura e, alguns dos quais poderão ter relação com o tema futuro.
Como sabemos o jogo de Mini, resolvidos os problemas da aglomeração junto da bola, caracteriza-se pelo ritmo vivo, de permanente correrias, onde numa 1ª fase, não lhe poderemos chamar de contra-ataque, em virtude da maneira desorganizada como acontece, em que o portador da bola com ou sem companheiros desmarcados se limita a driblar para se aproximar do cesto e lançar mas, muitas vezes, esse drible surge para o lado “livre”, mesmo que na direcção da sua tabela ou para o lado para onde está virado.
O jogo passa a ser mais organizado e, como gosto de ensinar, quando o jogador com bola procura um companheiro desmarcado à sua frente a quem passar e corre para a frente para eventualmente voltar a receber. Para que isto aconteça devemos, sobretudo no Mini 8, impedir que “roubem” a bola da mão de qualquer jogador (regra que colocamos). Isto permite que qualquer jogador com bola não tenha receio que lhe “roubem” a bola e, assim possa aprender a “ler o jogo”, para decidir se deve passar a um companheiro à sua frente, se deve driblar se não tem companheiros à frente ou se estiver perto do cesto lançar.
Logo que esteja automatizado nestes jogadores o procurarem enquadrar-se no campo e com o cesto, passamos a uma fase, em que o defensor pode “roubar” a bola mas apenas quando o jogador está em drible e ela não se encontra em contacto com o atacante. Aqui trabalhamos dois aspectos importantes para o atacante: aprender a driblar protegendo a bola, quer quando está parado (drible de protecção), quer quando está em movimento (drible de progressão). Para o defensor: aprender o momento para tentar o “roubo” da bola.
Quer quando não permitimos em nenhum caso que “roubem” a bola, quer quando autorizamos apenas no drible, surgem naturalmente infracções às regras que estipulámos e, para aumentarmos a confiança ao atacante, devemos sempre “penalizar” o defensor, devolvendo a bola à equipa que atacava.
Poderão alguns perguntar, porque privilegiamos, neste período, o atacante. A resposta tem a ver duas realidades muito claras:
1º - Se o jogador estiver com receio que lhe “roubem” a bola, não se enquadra com o cesto e, em muitas ocasiões procura livrar-se da bola, atirando-a para qualquer lado, até para as mãos dos jogadores da outra equipa;
2º - Se a incidência da nossa atenção se dirigisse para a defesa, provavelmente, não haveria jogo e talvez o prazer de ter a bola e de a introduzir no cesto não se cimentasse e o abandono prematuro das crianças seria maior.
Acho que o momento oportuno para o “roubo” da bola no drible deve acontecer no Mini 10 ou ainda no Mini 8, sempre de acordo com o nível dos atletas.
No Mini 12 permitimos que a bola seja “roubada” ao atacante sempre que a ocasião se proporcione. Desta forma, jogadores mais confiantes vão agora ter que continuar a aprender a proteger a bola e a ter uma atitude mais agressiva ofensivamente, que os leva a partir dessa protecção da bola a terem três opções: passe, lançamento ou drible (tripla ameaça).
Nesta fase, com alguns conceitos adquiridos podemos ter um contra-ataque perfeitamente definido com os jogadores a ocuparem 3 corredores (central e laterais) e a imprimirem um ritmo dinâmico ao jogo.
A maioria dos jogos de Minibasquete joga-se permanentemente a altas rotações, num e noutro sentido.
Há medida que começamos a dar mais ênfase à defesa, surge a necessidade de o jogo ser organizado de outra maneira, onde damos especial atenção à condução da bola (se a defesa não nos permite jogar sistematicamente em contra-ataque), e no Mini achamos que todos devem estar em condições de o fazer.
No meu caso, gosto que, por exemplo, após o ressalto defensivo, quem recupera a bola, faça um 1º passe lateral e para a frente, podendo ser este jogador a conduzir a bola, se não tem jogadores livres à sua frente (sempre que existam, prefiro o passe, pela velocidade de aproximação da bola ao cesto da outra equipa).
Dizia no início deste artigo, da relação com o tema da desmarcação que penso abordar seguidamente e a razão disso prende-se com o facto de, quer jogando em contra-ataque haver a necessidade de ocupação dos corredores, quer num jogo mais controlado através da condução da bola em drible, os outros jogadores já terem aprendido vários conceitos relevantes, como sejam: a necessidade de procurarem estar à frente do portador da bola, do afastamento deste numa distância de 3/4/5 metros, que lhe possibilitem receber, da colocação à direita e à esquerda da bola, para permitir mais opões de passe e de estarem libertos de marcação para poderem receber. Estes conceitos muito simples, estão na minha opinião, directamente relacionados com o “Trabalho de Desmarcação”.