Um dos melhores livros sobre basquetebol que já li foi, sem margem para dúvidas, o “Multiple offense and defense” de Dean Smith.
Penso que muitos dos leitores concordarão comigo. Quem ainda o não leu, é urgente fazê-lo. Em relação ao livro vou aqui deixar algumas impressões que talvez valha a pena lembrar e discutir.
Na minha opinião o livro traz três aspectos simultaneamente inovadores e de enorme qualidade.
Em primeiro lugar está a forma criada por Dean Smith para avaliar o ataque e a defesa de uma equipa de basquetebol, através da análise estatística das posses de bola. Smith informa-nos que esse sistema foi elaborado inicialmente em 1955, quando ele era assistente na equipa da Academia da Força Aérea, sob a liderança do treinador Bob Spear (que escreve neste livro um capítulo sobre o “Shuffle Offense”). O objectivo desta “estatística” original era “julgar adequadamente a efectividade do ataque e da defesa” da equipa. Essa metodologia, a que chamaram “possession evaluation”, foi integrada pela primeira vez num livro do treinador Frank McGuire chamado “Defensive Basketball”. A maneira inteligente e sábia como Smith montou um sistema completo e coerente de apreciação da valia de qualquer equipa é algo de soberbo. Nos últimos anos temos reparado na profusão de muitos estudos que aprofundam a questão da análise das posses de bola. Vemos neles, em grande parte, uma inspiração smithiana. Penso que é na análise das posses de bola e suas sequências que está, em grande parte, o futuro da análise das equipas. Para além das eficácias absolutas e relativas, saber a origem e a consequência das posses e conhecer os conteúdos das suas utilizações é um dos modos mais eficazes de conhecer o basquetebol concreto das equipas e tirar conclusões válidas para o treino e direcção das mesmas.
Em segundo lugar, Dean Smith conseguiu convincentemente demonstrar os fundamentos filosóficos que estão na base dos ataques e das defesas do basquetebol, decantando conceitos, por vezes contraditórios, de uma forma que merece ser apelidada de dialéctica. Por exemplo, no que respeita ao ataque, coloca em confronto – entre outras díades - o “System versus flexible approach” ou o “Ball control versus fast break”. Já no que concerne à defesa, começa por fazer uma interessante comparação entre o diálogo defesa/ataque que existe no basquetebol e a relação bem mais simples ou compartimentada que se encontra nos outros desportos norte-americanos mais populares, como o futebol americano e o beisebol. De substantivo, trata em pormenor vários aspectos da defesa, tais como as questões da utilização do pessoal disponível e da determinação dos objectivos defensivos.
Em terceiro lugar, como sumo prático do livro, conseguiu traduzir em propostas concretas, os ataques e defesas a empregar e os métodos consequentes para o seu ensino e treino. A ideia de diversificação e multiplicação de soluções, que para Smith é essencial como resposta aos problemas que ele encontrava no basquetebol do seu tempo, subjaz a essa concretização e é visível desde logo no título revelador do seu livro.
Tudo isto reunido num único volume faz dele um livro de cabeceira de treinador. Faço minhas as palavras de Bobby Knight quando diz: “tornar-se-á numa constante fonte de referência” para os treinadores, ele que é “um dos mais inteligentes e melhor organizados livros jamais escritos no basquetebol”.
Passadas várias décadas depois da sua primeira edição, este livro tem muito de actual ao nível do conteúdo, mas talvez ainda mais como exemplo de abordagem aberta e penetrante de um dos grandes treinadores do basquetebol mundial.
Teria muito interesse discutir e reanalisar muito do que o livro contém. Que acham os meus caros leitores?
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