A química entre os jogadores
 
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A química entre os jogadores

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Emanuel SilvaPor amizade ao Ivan assisti este ano a dois jogos da Proliga, o Física com o Sangalhos em Torres Vedras e mais recentemente o Algés com o Física.

Das três equipas que pude observar nesses desafios, quem melhor interpretou o jogo de basquetebol foi sem dúvidas a equipa do Sangalhos. Há uma química especial entre os seus jogadores que lhes permite encontrarem sempre soluções.

Contudo não é apenas a química entre os jogadores, que faz com que se ganhem jogos, há a condição física, a profundidade dum plantel, a estatura e outros fatores que ajudam à prestação duma equipa.

Conheço por um conjunto de circunstâncias alguns dos jogadores do Sangalhos desde jovens. Sei o trabalho que os seus treinadores de formação fizeram com a geração nascida em 1981, pois segui atentamente as intervenções que o companheiro Aniceto Carmo, teve em diversas ações promovidas pela ENB, em que explanava de uma forma magistral o jogo construído a partir de princípios, que certamente muito contribuiu para química existente entre os seus jogadores, e que o companheiro Francisco Gradeço tão bem sabe dar liberdade.

Se a noção de espaço vital e natural de cada criança foi o conceito que mais me cativou em Collell, a forma como Josep Bordas desenvolveu este conceito mencionado no artigo anterior e o associa ao conceito da química entre os jogadores, também me fascinou.

“Cada jovem é uma alma e em Collell nós começamos a unir estas almas.”

Os jovens que chegam a Collell normalmente são os jogadores mais influentes nos seus clubes ou das suas seleções autonómicas e em termos de aprendizagem do jogo nós aqui, queremos que eles abandonem a noção de que o jogo são eles a bola e o cesto. Há que abandonar essa noção, ao mesmo tempo que há que melhorar a sua capacidade de jogar 1 x 1, pois na sua essência o jogo de basquetebol é um jogo individual que se joga num contexto.

Uma vez mais, há coisas, que os treinadores não conseguem ensinar. Por exemplo podemos ensinar zonas de receção do primeiro passe, mas nunca poderemos ensinar a que velocidade é que determinado jogador vai aparecer nessa zona de receção. Isso é uma química que se vai construindo entre os jogadores com muito jogo. Em Collell nós começamos a unir gerações de jogadores.

As crianças que chegam a Collell têm de saber aprofundar a aprendizagem de jogar em equipa, ao mesmo tempo que tem de melhorar o jogo de 1 x 1, mas um jogo de 1 x 1 jogado dentro de um contexto, compreendendo a noção do espaço do defensor, dos outros elementos da equipa e da posição dos seus defensores. Como referimos cada jogador tem o seu espaço vital e mais cedo o mais tarde é ali que ele vai naturalmente procurar as soluções em que se sente mais confortável. No entanto a partir daí, há que os ensinar a procurarem outros espaços outras posições, até porque no basquetebol moderno cada vez mais os jogadores tem de ser polivalentes e dominar duas ou três posições. Por exemplo um jogador alto que gosta de jogar no interior e que não se furta ao contacto, terá de, por exemplo vir cá fora para fazer um passe a partir da posição de base para compreender o espaço em que se movimenta e depois deixamo-lo ir para a posição em que se sente confortável.

Ao contrário há jogadores altos que se sentem desconfortáveis com o contacto e por isso fogem ao confronto e procuram naturalmente soluções exteriores. Estes terão de passar por posições interiores, para compreenderem a dificuldade de conquistar espaços para receção da bola  nesta zona e depois podem vir para a sua posição natural.  Neste processo de os deixar jogar termino com uma citação de Josep Bordas, enquanto eu ia tirando notas soltas, voltou-se para mim e disse:

Agora escreve isto com letras maiúsculas, na aprendizagem do jogo há que potenciar o erro há que deixar que as crianças errem para que possam exteriorizar tudo o que vai dentro de eles.

Depois de verificarem os seus insucessos e alguns dos erros são eles que irão corrigir e que vão encontrar as soluções sobre o que devem e não devem fazer. Nós damos os objetivos, mas são eles que tem de expressar como encontram as soluções. Na situação de jogo normalmente os treinadores intervêm demais e com intervenções longas demais. Hoje em dia, nos países mais desenvolvidos e com toda a informação existente, as crianças apreendem sobretudo com o que veem, mais do que com o que dizemos.

Razão pela qual, digo eu, que devemos ser muito seletivos breves e objetivos nas nossas intervenções.

 

 


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