Por muito que possamos encontrar modalidades com regras peculiares, criativas e a favorecerem a evolução e mediatização da mesma, o Basquetebol é, sem dúvida,
a modalidade que melhor soube fazer evoluir as suas regras do jogo, defendendo o espectáculo. Longe vão os tempos em que o lançador dispunha de 3 tentativas de lançamento livre para converter 2, ou poder optar entre repor a bola na linha lateral ou dispor de “1+1” em lançamentos livre.
As posses de bola eram, até ao final do século passado de 30 segundos, recentemente a regra dos 24 segundos sofre ajustamento com o pormenor dos 14 segundos. Quem pensou o jogo e contribuiu para a evolução das suas regras, sem dúvida que pensou sempre nas necessidades do jogo praticado pelos seniores. A linha de 6,75 que era de 6,25 constituiu igualmente uma adaptação onde se procurou preservar a espectacularidade do jogo. Honra seja feita a quem se sentou pensando na evolução das regras do jogo. Mas terá havido as mesmas preocupações com o jogo das crianças e jovens?
Se um motivo para alterar as regras do basquetebol foi a questão do espectáculo, tornando o jogo atraente, onde houve preocupação de tornar o jogo das crianças e jovens suficientemente capaz de satisfazer as suas necessidades de aprendizagem?
Será necessário ao jogo praticado pelos sub-14 implementar as mesmas regras do jogo de seniores? Quando pedagogicamente se defende que o jogo dos seniores não é igual ao jogo dos “iniciados”, parece não haver por parte dos órgãos de decisão europeu e mundial quaisquer preocupação em investir nas regras do jogo para quem principia, quem inicia a especialização e quem entra no rendimento. Claro que existem ajustamentos, tais como o tamanho da bola, se bem que com interpretações diferentes para masculino e feminino. Mas será necessário reflectir sobre o papel da linha dos 6, 75 no jogo dos Iniciados?
Em Portugal vigora o regulamento técnico pedagógico para o escalão de sub 14, essencialmente sensível à questão da utilização de jogadores. Boas preocupações estas que, inclusive, nalgumas provas e associações são igualmente aplicadas ao escalão seguinte – Sub-16.
Pensar no jogo dos sub-14 não é pensar no jogo dos seniores, mas antes pensar em construir uma atitude perante o jogo que favoreça a evolução do jogo em senior. Do que conheço do jogo dos sub-14 partilho algumas sugestões que poderiam contribuir para o que anteriormente foi questionado:
- Na formação dos juízes estes, para além da aprendizagem das regras e sinalética da arbitragem, deveriam conhecer, caracterizar e intervir no jogo dos principiantes, enriquecendo a sua intervenção ajudando quem ainda á os primeiros passos na aprendizagem do basquetebol. Se um jogador que inicia é diferente de um sénior, um jovem árbitro é igualmente desconhecedor das particulares e finalidades, de natureza pedagógica inerentes ao ensino e à aprendizagem do jogo – servir as necessidades dos jogadores;
- Provavelmente a bola só necessitaria de ir ao árbitro em situações de início, reinício do jogo e faltas. Nas restantes situações a bola não ir ao árbitro fomentará a reação de todos os jogadores à perda ou ganho da posse da bola e estimulará ao aumento do ritmo do jogo;
- À semelhança da experiência feita em Espanha, com jovens sub-12 e já implementada na Festa do Minibasquete, desencorajar o defensor a permanecer dentro da área restritiva quando o seu adversário direto está, por exemplo, do lado contrário da bola – regra dos 3 segundos defensivos – é uma regra que contribuirá para criar um bom ambiente de aprendizagem do jogo;
- Proporcionar as mesmas oportunidades de jogar, poderá ser uma medida que ajudará mais crianças e jovens a fidelizarem-se à modalidade. Daí que a duração de um jogo de iniciados poderá muito bem ser reduzida no tempo de cada período, podendo aumentar no número de períodos. Se se jogar 5 períodos de 8 minutos cada jogador poderá muito bem jogar obrigatoriamente 2 períodos e o treinador poderá gerir a utilização dos jogadores no 5º período;
Pensar no que o jogo dos nossos iniciados pede carece de estudo e tempo, implicando mobilização de recursos humanos capazes de caracterizar o jogo. As sugestões aqui deixadas estão longe de serem consideradas verdades absolutas, mas estão perto de nos ajudarem a construir um jogo atractivo onde a criança e o jovem que inicia na prática do Basquetebol possa desfrutar da participação efectiva no seu desenrolar. Valerá a pena pensar nelas?
Comentários
Para além de subscrever as propostas concretas que fazes, acima de tudo concordo com o princípio subjacente, que não são os jovens que se tem de adaptar às regras dos adultos, são as regras que se tem de adaptar às características e necessidades dos jovens. Parabéns por mais este artigo.
É o caso de uma tese de doutoramento que se pode encontrar em:
http://hera.ugr.es/tesisugr/15346389.pdf
Que eu saiba várias dessas propostas já se tem utilizado no minibasket da Catalunha.
Parabens, caro João, pela abordagem do tema que deverá merecer de todos uma atenta e serena reflexão.
Aquele abraço.
Tomando como ponto de partida - realidade concreta !- de que a evolução das regras do jogo têm ocorrido muito mais a pensar nas necessidades do jogo praticado pelos seniores e muito menos(ou quase nada) a pensar nas crianças e jovens, visando a capacidade de satisfazer as suas necessidades de aprendizagem,fa ce às sugestões apresentadas, pertinentes e adequadas, claro que valerá a pena pensar nelas.
Como também quero ir a jogo, acrescentaria mais duas, em concreto: - estabelecer regras no sentido de procurar ordenar alguma da "pressão todo o campo" que por aí prolifera de forma desordenada e à molhada..., por forma a que se cumpram os verdadeiros princípios da defesa para, só assim, se saber defender; - reconhecida e ineficácia do gesto ténico fundamental do jogo - o lançamento -,inclusivé em àreas próximas do cesto, não considerar de 3 pontos o lançamento realizado para além dos 6,75.
Dei um espreitadela e, pq com mais tempo, irei a jogo.Situo-me no banco de suplentes, por ora, e ainda hoje "ajustaremos contas", combinado?
Aquele abraço, com a amizade que Aristóteles preconizava :"a ter lugar entre os bons".Entretanto vou analisar as sugestões e não faltarei ao jogo.