A principal alteração regulamentar que irá vigorar na Festa do Basquetebol Juvenil da presente época, prende-se com o facto de apenas ser possível utilizar a defesa individual nos escalões de sub-14 e sub-16.
Renasce a discussão eterna e filosófica sobre a legitimidade da sua utilização. Não é propósito do artigo desta semana sustentar esta decisão, ou argumentar algo mais sobre se devemos ou não recorrer às defesas zona nos escalões de formação.
Para mim é claro que não deveremos, pelo menos como forma de atenuar dificuldades sentidas perante adversários mais apetrechados, disfarçando o que ainda não temos e trdaos a querer ter. A defesa zona não é um papão, podendo ser uma surpresa, algo que possa alternar em menor percentagem com a defesa base individual. Nesta lógica poderemos finalmente dedicarmo-nos a tentar apetrechar os nossos jovens de ferramentas da técnica e tática individual e coletiva da defesa, dita Homem a Homem com ajudas.
Concretamente nas seleções regionais acredito que o tempo não seja muito para preparar os melhores, pelo que treinar mais do que uma defesa, só estará ao alcance dos que mais treinam, mais conhecem o jogo e melhor o dominam e esses, permitam-me são muito menos dos a utilizam sem preocupações directas com a evolução dos jogadores jovens em formação . Parece-me que o jogo que se pratica atualmente no escalão de sub-16 deverá merecer alguma atenção, na medida em que estamos na ponte entre o final de uma iniciação desportiva, feita nos sub-14 e o trajecto para a alta competição. Distinguir necessidades, fragilidades e potencial de um grupo candidato a alcançar a etapa Junior conhecendo melhor o jogo, não implicará apetrechá-los com a utilização regular das defesas zonas em ½ campo. O jogo de alto nível parece igualmente não recorrer sistematicamente e de forma prioritária ás defesas zona.
Se repararmos, na procura de fazer realçar as fragilidades ofensivas dos adversários, contribuímos para que o jogo se limite a jogar contra uma disposição defensiva demasiado compacta e eventualmente passiva. Se juntarmos a incapacidade de quem ataca estaremos a falar de um jogo com pouco interesse. Este facto retirará a possibilidade de se avançar na exploração de conteúdos de ataque contra defesa individual importantes, como sejam: reações às penetrações em drible; bloqueios indiretos realizados em determinados ângulos e como consequência de uma boa defesa ao trabalho de recepção e cortes para o cesto dos atacantes sem bola; a exploração do ataque e defesa ao bloqueio direto; do 1x1 em áreas próximas do cesto das ajudas e rotações defensivas às penetrações em drible; melhorar a capacidade do defensor direto parar o atacante em drible.
Para tudo o que foi elencado é necessário tempo, paciência e trabalho. Termos a verdadeira noção do que realmente queremos para o nosso jogo ser melhor, poderá passar por definirmos definitivamente se queremos seguir a filosofia de Jim Boeheim e só concebermos a defesa zona no basquetebol português, ou talvez de forma mais rica, podermos cimentar uma verdadeira agressividade defensiva com uma estrutura base – a defesa individual com ajudas.
Para a quantidade de treino que se pratica nos clubes, em seleções regionais e nacionais, teremos de pensar nas nossas verdadeiras prioridades defensivas. As regras e os conceitos da defesa terão de ser simples e trabalhados sempre. A meu ver não haverá tempo para muitos conteúdos táticos coletivos, mas antes poucos e trabalhados passo a passo.
Um passo poderá passar também por introduzirmos uma regra pedagógica que há algum tempo os nossos vizinhos espanhóis introduziram, onde já se compete mas ainda se aprende jogo – os 3 segundos defensivos. Os 3 segundos defensivos obrigam o defensor a sair da área restritiva quando o seu adversário direto estiver igualmente fora da mesma, ou para lá da linha dos 3 pontos. A punição poderá passar por um lance livre, assim como a formação dos juízes terá de estar desperta para esta regra, nos escalões de sub-14 e sub-16.
Não obstante a utopia desta sugestão, parece haver consenso que poderemos e deveremos contribuir para que na nossa seleção nacional de sub-16 seja possível alcançar a maturidade tática adequada para competir com os melhores à base de conceitos simples, mas trabalhados sempre.
Terminaria esta mera reflexão expressando que a defesa zona não é uma solução tática coletiva impeditiva de evolução dos jogadores ou de equipas. Todavia, parece ser importante encontrarmos algumas ideias que satisfaçam a evolução global do praticante de basquetebol, a todos os níveis e fases do jogo. Nessa medida, aprender, praticar, competir em ambiente de defesa efectivamente com ajudas, levará ao ensino de um ataque, também ele rico em iniciativa individual e participação de mais jogadores em tarefas em decisões coletivas mais ricas do ponto de vista técnico e tático.
A defesa zona e a sua implementação num grupo de jovens terá tanto e rico como de redutor ou camuflado para que não vejam insuficiências que tardarão a encontrar espaço para serem melhoradas.
Vale a pena pensar nisto?
Comentários
Num escrito de 1981 da ANTB, o Prof Jorge Araujo já escrevia que " defender zona significa também e sempre, pressionar o atacante com bola, sobremarcar os postes, dificultar os passes penetrantes, não permitir cortes pela frente, comunicar com os colegas, ver sempre a bola e que os defensores mais afastados da posição da bola avisem acerca de tudo o que se possa estar a passar nas costas dos defensores no lado da bola".
Quantas defesas zonas vemos com estes comportamentos? Provavelmente nenhuma, não se podendo então chamar defesa zona, será outra coisa qualquer. Não são estes princípios que devemos ensinar na defesa homem? A medida é positiva e peca por tardia, mas como tudo o que acontece neste país os problemas de anos são para serem resolvidos em meses. Mais grave ainda é num jogo de sub 16 uma equipa defender com três jogadores, colocando os outros dois no meio campo ofensivo.Dito isto e fazendo referência a um teu artigo, que venha de lá a ASAE do desporto.
Gostei bastante de ler este artigo.
Parece-me uma excelente resolução por parte do DTN.
Concordo com a maioria do que foi escrito, mas tenho que discordar do paragrafo que se refere à filosofia de Jim Boeheim.
Jim Boeheim só defende zona (a sua habitual 2:3) nos jogos, pois nos treinos trabalha ambas as defesas de forma equilibrada. Depois a sua zona é uma zona agressiva e com princípios bem definidos... não é aquilo que alguns treinadores de sub-14 e sub-16 fazem em Portugal, aquilo a que eu prefiro chamar de "acampamento", pois chamar-lhe defesa zona é uma ofensa para as equipas que defendem zona correctamente.
Mas à parte disto, veremos se tais princípios serão respeitados nas Festas...
Continuação de bom trabalho!
Saudações desportivas.