Falar sobre amigos é sempre uma tarefa difícil, pois arriscamo-nos a perder isenção nas afirmações e a colori-las excessivamente com o afecto que temos pela pessoa em causa.
O Carlos Teigas treinou, iniciados, juvenis, juniores e seniores masculinos enquanto treinador do Algés, mas quem com ele privava sabia que o seu amor verdadeiro era pelas equipas de juniores. A sua vocação orientava-se preferencialmente para este escalão, onde a maturidade dos jogadores já tinha algum significado, mas, apesar disso, mantinha-se a aberta a possibilidade de intervenção sobre as respectivas personalidades e níveis de motivação.
De qualquer modo, o Teigas é um treinador de equipas de formação. É um treinador que sempre colocou o interesse e as necessidades dos seus jogadores acima de tudo o mais, conseguindo com isso, naturalmente, retirar benefícios evidentes para as equipas que treinava.
Recordo bem algumas dessas equipas, onde estavam os ídolos e as principais referências para os restantes jovens do Algés.
A estrutura da equipa era sempre criada a partir das potencialidades dos jogadores do grupo, como que colocando a organização da equipa ao serviço da formação dos jogadores. Sempre que o Teigas via existir algum jogador cujo futuro poderia ser beneficiado se, naquela etapa da sua formação, aprendesse a jogar desempenhando uma determinada função na equipa, era nela que ele se formava, mesmo que, transitoriamente, cometesse erros e mostrasse dificuldades, coisas tão naturais em quem aprende.
E foram muitos os jogadores que beneficiaram dessa opção e foram longe nas suas carreiras como jogadores de elite em Portugal!
Trabalhando nos escalões de formação de um clube como o Algés, não podia limitar-se às funções técnicas associadas ao treinador. O seu cargo levava-o a intervir e acompanhar os jogadores muito para além do tempo em que com eles estava no treino.
E foram muitos os casos de jogadores que receberam esse apoio e que ainda hoje lhe são reconhecidos.
O Teigas é uma figura do Algés. Daquelas que não pode ser esquecida por ninguém que olhe para a história do clube. Não tendo sido jogador em qualquer das suas equipas, entrou para o Algés em 1976 como treinador e por lá ficou, desempenhando todas as funções de treinador e coordenador, seja virado apenas para a sua equipa, seja acompanhando os restantes grupos, tanto com as suas ideias e iniciativas como pela sua intervenção junto dos respectivos treinadores.
A saúde fez afastá-lo do treino, mas isso não foi suficiente para o afastar do SAD, onde continuou a desenvolver um trabalho importantissimo na área da coordenação técnica e do apoio aos treinadores. Mas mais do que isso. Durante este tempo pôde manter vivo, com a sua presença, o exemplo de entrega e de trabalho que sempre constituiu um elemento que o definia.
Todos os que gostam do Algés têm de lhe estar agradecidos.