Ao contrário do que deveria ser, uma época de reflexão, conseguimos tornar o Natal num frenesim de consumismo em que uma vez mais não temos tempo para pensar. Em criança lembro-me por esta ordem cronológica das celebrações do Carnaval,
da Páscoa, do dia São Martinho, do dia da Mãe, do Natal, a passagem de ano e pouco mais. Hoje celebramos o dia dos namorados, o haloween e inúmeros outros dias disto e daquilo, que rapidamente se transformam uma vez mais em momento de consumismo , que tem o seu apogeu na loucura colectiva do “Black-Friday.”
Vem esta reflexão inicial a propósito da minha enriquecedora vivência aqui na ilha da Madeira. Estou sinceramente a gostar desta minha experiência na Madeira, não apenas pela simpatia como fui recebido por muitas pessoas, mas acima de tudo porque estou a realizar um sonho com mais de trinta anos que era viver fora de Lisboa, preferencialmente numa ilha.
Contudo não há bela sem senão. Se por um lado estou muito feliz por ter a possibilidade de realizar um sonho antigo, por outro lado em alguns momentos, sinto que existe entre muitos adultos um enorme manancial de ressentimento de coisas passadas, às quais por ser naturalmente perfeitamente alheio, apenas me incomodam, na medida em que isso afecta as actividades que tenho de organizar para as crianças. São inúmeras as estórias do passado que me vão contando, desde pais que me disseram que não querem arbitrar jogos de minis, porque não estão para em frente aos seus filhos serem insultados por outros pais, desde treinadores que por questões anteriores, fazem tudo para que a sua equipa esmague a outra equipa, etc, etc, etc… Um infindável número de estórias que já me contaram. Há pessoas, que estão sempre focadas no passado.
E é sempre com base em algo do passado, que prejudicamos o futuro, prejudicamos as crianças que nada tem a ver com “guerras” anteriores. O passado deveria existir para evitar os erros cometidos e não para replicar os mesmos erros e o mais grave é que o fazemos utilizando as crianças. Salvo melhor opinião os problemas dos adultos devem ficar e ser resolvidos entre os adultos. De outro modo rapidamente caímos no erro muito frequente de casais desavindos que é utilizar as crianças os filhos, como armas de arremesso ou chantagem. Também no minibásquete as crianças não podem ser utilizadas para as desavenças e frustrações dos adultos. Não foi aqui na Madeira, mas pensem nesta situação que eu já vivenciei de uma criança de seis anos entrar num pavilhão e ver que as bolas são do clube, não adversário mas “inimigo” e dizer: - Bolas do clube “tal” nem lhes toco!
Quem é que está a falar a criança ou os adultos? O curioso é que já eu tinha pensado escrever este artigo, já tinha dito à Catarina Caldeira, que título daria ao meu artigo, quando no outro dia me dizia a Fátima Freitas é preciso parar para pensar. Nós vivemos enquanto sonhamos e morremos quando deixamos de ter sonhos, pelo que sugiro que criemos o dia de parar para pensar. Nesse dia ficávamos em casa e a única coisa que deveríamos fazer era pensar. Agradeço a quem tão bem me tem recebido aqui na Madeira e desejo votos de bom natal a todos.
PS: Felizmente também há coisas muito boas no minibásquete da Madeira, como por exemplo os quatro jovens árbitros Constança, Sara, Pedro e Heitor que sempre que podem se prontificam benevolamente a arbitrar jogos de minibásquete e o fantástico exemplo, que deveria levar mais árbitros a pensar do Vicente Jardim, que ao vir à Madeira e antes do jogo da Taça de Portugal entre o CAB e o Boa Viagem se prontificou a ir arbitrar um jogo de minibásquete com a Constança. Fazer pelos jovens árbitros e pelas crianças o que no passado já fizeram por nós é de uma dimensão social, de solidariedade e de gosto pela modalidade digna de realce. Obrigado Vicente.