Para ser um bom treinador não basta frequentar graus de formação ou pensar que o simples facto de ter sido jogador (ainda que ajude), lhes dá as competências necessárias para exercer tão nobre profissão. Para ser treinador não chega ter o TPTD.
Aliás parece ser já opinião corrente a necessidade de reformular os conteúdos e os referenciais da nossa formação desportiva.
Sendo há bastante tempo formador da ENB e tendo nestas funções criado relações de amizade com os alunos, vimos notando que existem questões de natureza metodológica, didáctica e pedagógica que não são afloradas com a importância que merecem.
Situação que se agrava quando os candidatos em período de estágio não são devidamente acompanhados pelos tutores e são os únicos responsáveis da equipa.
Para ser um treinador de sucesso não basta ter conhecimentos profundos da modalidade; precisa, também de ter a capacidade de saber ensinar, de saber comunicar e apresentar as informações de forma que todos os jogadores possam entender e aprender de forma correcta.
Para um treinador de formação o objectivo principal deverá ser a progressão individual dos jogadores, o que às vezes entra em conflito com a vontade de ganhar jogos.
É preciso ter paciência e dar mais tempo de jogo aqueles que mais precisam. Todos nós queremos obter resultados em tudo quanto fazemos mas, para um treinador de jovens o melhor resultado é o aperfeiçoamento e valorização do jogador.
Há que cumprir regras fundamentais, tais como, progredir no ensino começando pelo mais simples e mais básico.
Aprender o lançamento em suspensão antes do lançamento na passada ou os 2x1 e rotações defensivas antes da defesa de ajuda não faz qualquer sentido.
A chave do sucesso é organizar sequências de ensino com desafios exigentes adaptados às capacidades dos atletas, mas possíveis de alcançar.
E, para executar bem e com eficácia é necessário repetir para consolidar todas estas aprendizagens.
Ter também consciência de que os ritmos de aprendizagens são variáveis; uns aprendem mais rápido, outros demoram mais tempo.
Ao apresentar algo de novo começar por uma análise global, seja um gesto técnico ou um sistema e a seguir trabalhar o gesto técnico de uma forma analítica e fraccionar a táctica colectiva.
O treino individual é muito importante e para jogadores menos qualificados ajuda a aperfeiçoar mais rápido toda a execução do gesto técnico.
Ser paciente, explicar e demonstrar, depois corrigir.
Nunca humilhar o atleta, fazer sempre críticas construtivas e transformar o momento do erro numa nova oportunidade de aprendizagem.
Não é aceitável criticar e depois nada fazer para ajudar o jogador a corrigir o erro.
O elemento que define o treinador não é o seu conhecimento mas, sim aquilo que consegue transmitir e ensinar ao seu atleta.
Alguns conselhos:
- Apresentar nos treinos situações de jogo que possam aceitar várias respostas, obrigando à leitura e tomada de decisão.
- Nunca especializar precocemente os jovens jogadores
- Utilizar de forma predominante reforços positivos.
- Adaptar as situações e objectivos às capacidades dos jogadores
- Promover um espírito leal e competitivo
- Estabelecer diálogo com os jogadores fora das horas de jogos ou treinos para reflectir em conjunto sobre aquilo estamos a fazer.
- Banir todo o tipo de abordagem abstracta, usar antes conceitos simples cuja percepção esteja ao alcance dos jogadores.
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