Estes são os artigos que gostaria não escrever. Os textos para homenagear a partida de um amigo, dum membro da família do basquetebol. Conheço o Sídónio e o seu irmão Francisco Fernandes desde os seus tempos no Instituto Superior de Economia,
quando no início dos anos 70 foram estudar para Lisboa. Até muito tarde, sempre pensei que eram madeirenses. Só depois é que vim a saber que afinal tinham nascido nos Açores na ilha do Faial, mas para mim continuam a ser madeirenses. Jogámos basquete no Clube Internacional de Futebol (CIF) e lembro-me, como se fosse hoje, dos treinos no ginásio do Colégio Militar, que tinha a particularidade de ser alcatifado. Sim treinávamos em alcatifa, mas como esta era fina e abrasiva era necessário alguma coragem para nos atirarmos ao chão para recuperar uma bola.
Depois deu-se o 25 de Abril e na utopia daqueles tempos e própria da juventude pensámos, no início da época de 1975/76, que seria possível uma equipa ser treinada por uma comissão, que se a memória não me atraiçoa era composta por ti, pelo Álvaro Saraiva, o Mário Silva e por mim. Tínhamos na época anterior, sido campeões regionais da 1ª divisão de Lisboa e tínhamos subido ao extinto campeonato regional de honra, onde iríamos defrontar os clubes mais fortes da Associação Basquetebol de Lisboa, como o Benfica, Sporting, Belenenses, Atlético, Algés etc. Penso que o resultado da utopia não foi brilhante, mas era o tempo das utopias e das comissões.Depois as nossas vidas levaram rumos diferentes, regressaste à Madeira, onde foste decisivo na criação do CAB Madeira e à distância fui acompanhando a realização dos teus sonhos no universo do basquetebol. Já mais recentemente voltá-mo-nos a cruzar, quando tive a grande satisfação de conhecer as tuas filhas nos Jamborees nacionais de Porto Santo em 2004 e Minde em 2008. Lembro-me bem, de te ver acompanhado pela Carmo na assistência do Gala do Jamboree, no Cine-Teatro Rogério Venâncio a assistir às habilidades da Rebeca no número do free-style.
Contigo e com o teu sentido de humor, aprendi uma expressão que quando me deixei engordar passei a utilizar. A idade passou a ser medida em anos e quilos: “ Há vinte anos e vinte quilos atrás” eu era decididamente mais elegante.
Já aqui na Madeira estivemos juntos pela última vez a 13 de Outubro de 2018 no jogo da liga feminina do CAB com a Ovarense. Fiquei algo incomodado pela fragilidade que já era visível, mas uma vez mais fiquei impressionado pela tua força e humor, pois não consegui vislumbrar em ti nem desânimo, nem queixume. À medida que o tempo vai passando cada vez mais estou convencido, que o melhor que o basquete me deu foi fazer amigos e é triste, quando os vemos partir.
Comentários
Escrever sobre o meu irmão é um exercício que também desejo, mas as palavras ainda encalham nas emoções. Ainda bem que os amigos o fazem! Abraço. FF