Em setembro de 2018 fui coordenar o minibásquete na ilha da Madeira. Já lá vão 6 anos. O facto de ter gostado muito de viver no Funchal e de ter feito lá bons amigos e amigas, leva-me a estar atento ao que se passa no basquetebol madeirense.
Foi com muita curiosidade que eu vi na folha da estatística do jogo CAB x BSA o nome de dois jovens, que eram minis no ano em que eu cheguei à Madeira, o Afonso Almeida mini-12 de segundo ano, que já jogava no CAB e o Afonso Gonçalves, mini-12 de primeiro ano que então jogava no CDEFF. Bem sei, pela folha da estatística do jogo, que quer um quer o outro não chegaram a jogar. Mas ambos ainda são muito novos e já conseguiram integrar o plantel da equipa sénior do CAB.
Lembro-me muito bem dos dois, o Afonso Almeida, sempre muito aplicado a executar as técnicas aprendidas muito corretamente, mas faltava-lhe um pouco de explosividade. O Afonso Gonçalves um ano mais novo um verdadeiro atirador nato. O engodo que tinha pelo cesto levava-o, praticamente sempre que tinha espaço, a lançar ao cesto. Não sei se estas características se mantêm, mas sei que nem um nem outro foram selecionados para irem a Paços de Ferreira. Desse tempo, lembro-me bem dos jogos de grande rivalidade, existente entre ambos os clubes, facto que me levou a pedir ao Conselho de Arbitragem da ABM para nomear um árbitro experiente para um jogo decisivo entre o CAB e o CDEFF. Fruto dessa situação, e feliz por poder contar com o apoio benévolo dos árbitros, escrevi na ocasião o artigo “Sentimentos contraditórios” de 26 de Janeiro de 2019, do qual transcrevo agora uma passagem.
“Contudo e como já o transmiti a várias pessoas esta felicidade não deixa de gerar em mim sentimentos contraditórios, na medida em que para resolver um ambiente de crispação em torno de um mero jogo de minibásquete, que não passa dum jogo entre crianças, se torna necessário nomear o Gualdino Henriques, há qualquer coisa no meio disto tudo que me entristece. Entristece-me perder-se a noção de espaço de aprendizagem da modalidade e de cidadania, no qual eu tão convictamente acredito, que o minibásquete deve ser. A todos os árbitros que esta época já arbitraram jogos de minibásquete, desde os que se estão a iniciar como a Larissa, aos jovens que já mencionei no artigo de 18 de Dezembro de 2018, “Parar para pensar” como a Sara, a Constança, o Heitor e o Pedro Soares, passando pelo Diogo Ferraz, Pedro Teixeira, Vicente Jardim, Gualdino Henriques e José Bruno Camacho, o meu sincero e profundo agradecimento.”
Agora olhando para trás, tomo conhecimento que grandes rivais no minibásquete jogam agora na mesma equipa. O mundo sempre deu e continua a dar grandes voltas. Também verifico que muitos dos mais jovens promissores, que estiveram em Paços de Ferreira como o Afonso Abreu, o Afonso Cró e o Mateus deixaram de jogar. Exceto o Lucas Barreira, que veio para o Continente, jogar no Imortal penso que todos os outros jogadores do CAB que estiveram em 2019 em Paços de Ferreira deixaram de jogar.
Três perguntas ficam no ar: Quem cria o clima de crispação entre jovens, que anos mais tarde acabam por pertencer à mesma equipa. O que levou o Afonso Almeida a não desistir e acabar de chegar mais longe, que os seus outros companheiros de equipa nos minis? E finalmente o que levou ao abandono dos então mais promissores companheiros?
Estas e outras questões levam-me, uma vez mais a acreditar, que o principal papel do minibásquete é o que se resume numa frase que ouvi proferir num “FIBA Get Together.” "As much as possible, as long as possible". Este é na realidade do nosso país o papel fundamental do minibásquete, a captação e a fidelização.