O exemplo discreto
 
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O exemplo discreto

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altConheci o Professor Carlos Teigas há cerca de 30 anos. Não sei precisar o momento, mas foi com toda a certeza num campo de Basquetebol. Ele, embora jovem, já era um treinador conceituado

e reconhecido na formação de jogadores no “seu” Algés e eu estava nos primeiros anos do meu percurso como treinador e procurava absorver todos os conhecimentos que estivessem ao meu alcance. Fomos adversários em vários jogos e eu tinha oportunidade de observar as suas equipas e aprender com o trabalho apresentado e com a forma como ele as orientava.

O trabalho do Carlos Teigas, fosse como treinador das suas equipas, normalmente de Juniores, fosse como coordenador do Basquetebol do Algés, apresentava sempre algo que constituía um exemplo de que podíamos aprender algo. As equipas jogavam com princípios simples e bem definidos, de que não abdicava. A valorização dos jogadores, enquanto atletas mas também enquanto pessoas, era fundamental, tendo passado pelas suas mãos alguns jogadores que atingiram o topo do basquetebol português e que sempre reconheceram o muito que lhe devem. O trabalho articulado e a “formação contínua” entre os treinadores do clube eram uma prática em que alguns de nós, noutros clubes, nos inspirávamos.

No final dos anos de 1980, o Carlos Teigas integrou a equipa técnica da Selecção Nacional de Juvenis (ou Cadetes, assim se designava na altura em Portugal ou internacionalmente e integrava jogadores até 17 anos), liderada pelo Jorge Adelino e que integrava também o Orlando Simões. Esta selecção nacional integrava 2 jogadores da minha equipa e eu, na sequência do desafio lançado a todos os treinadores que tinham jogadores convocados, tive a grande oportunidade de acompanhar de perto e colaborar de algum modo no trabalho desenvolvido por esses treinadores, já então grandes referências para mim.

A partir daqui nasceu uma grande amizade, que inclui também o amigo comum Jorge Adelino, que perdura e que se foi cimentando em torno de uma paixão comum – o basquetebol – e que se alargou a outras facetas da vida.

Desde a campanha dessa Selecção Nacional juntamo-nos com muita frequência e regularidade, para ver e falar de Basquetebol, mas também para conviver e falar da nossa realidade e conhecer outras experiências.

Partilhávamos uma grande vontade de aprender com o Basquetebol que se praticava nos países mais evoluídos. Por várias vezes fomos ao estrangeiro – especialmente a Espanha e França - assistir a Campeonatos Europeus de escalões jovens, mas também a apuramentos para Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo.

Testemunhámos o surgimento e o percurso internacional de muitas das estrelas do Basquetebol europeu – por exemplo, Dirk Nowitzky, Vujacic, Fotsis, Sergio Rodriguez, Belineli, Sergio LLul, Ricky Rubio, Milos Teodosic, Diot, Datome, Bogdanovic, …, e tantos outros - e vimos jogar excelentes selecções de jovens talentos, dirigidas por treinadores de referência. Passámos dias enfiados em bons pavilhões de bonitas cidades e também noutros bem modestos situados em locais desconhecidos no “fim do mundo”. A sede de ver basquetebol era tanta que por vezes quase éramos os únicos espectadores de qualquer jogo entre o 15º e o 16º, enquanto não chegava a esperada final antes do imediato regresso a casa.

Claro que também acompanhámos muitas das competições nacionais e internacionais que se realizavam em Portugal. Desde fases finais de campeonatos distritais e nacionais, passando por jogos e torneios de preparação das Selecções Nacionais, até ao Mundial de Sub19 em 1999 e o Europeu de Sub16 em 1995.

Aproveitámos os muitos quilómetros que percorremos para conhecer e saborear as cidades, as paisagens, a gastronomia dos países por onde passámos. Subimos muitas montanhas míticas da Tour de France e da Vuelta, de carro bem entendido, ficando espantados com as proezas dos homens do pedal. Quase sempre com o Jorge ao volante, eu nos mapas e o Teigas na observação atenta.

Fosse onde fosse, procurávamos não deixar escapar o sítio onde se comia bem lá na zona. Debatemos muito aquilo que vimos enquanto apreciávamos muitos saborosos pratos tradicionais. Mas também comemos muito “bocadillo” quando não se encontrava mais nada nas redondezas do pavilhão. O petisco esteve sempre presente. Mesmo quando reuníamos para preparar as edições do “Aprender com os outros” da ANTB não podiam faltar, por exemplo, uns bons queijos.

Para mim o meu amigo Carlos Teigas foi sempre e continua a ser um formador, de jogadores, de treinadores, de pessoas, pelo exemplo da sua prática sempre discreta, suportada numa observação atenta e numa reflexão serena, com algum distanciamento, sem grandes empolgamentos, mas sempre com direito à indignação.

Grande abraço, meu amigo e companheiro.

 

 


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