Na fase inicial de mais uma época lembrei-me de publicar a tradução/adaptação de um artigo de Pablo Esper, texto  que me trouxe à memória duas situações, uma entrevista que me foi feita em tempos pelo Carlos Gonçalves,

para o Diário de Coimbra e mais recentemente as opiniões manifestadas pelos  jogadores, Paulo Cunha, Fernando Neves, João Manuel e Jorge Sing em São Pedro do Sul.

Da entrevista lembro-me de ter dito que quando abordo uma criança após um jogo, a minha primeira pergunta é sempre gostaste? Mais recentemente das opiniões dos jogadores ficaram-me na memória os conselhos do Paulo Cunha aos mais novos, para se divertirem e a afirmação do João Manuel, quando sintetizou numa palavra as opiniões de todos os jogadores presentes, relativamente ao que sentiam num jogo de basquetebol: prazer.

Gostar do jogo e ter prazer em jogar é o que é decisivo para a fidelização à modalidade. Com a devida vénia, e tendo em consideração que o artigo, está focalizado na realidade argentina, publico partes do texto do Pablo Esper.

As exigências físicas não devem começar antes dos 14 anos
Por Pablo Esper

“O que acontece quando os pais projetam os seus desejos e frustrações nos filhos?

As exigências físicas não devem começar antes dos 14 anos. Especialistas, psicólogos e médicos dizem que a relação das crianças com o desporto deve ser lúdica e de acordo com o seu desenvolvimento físico e mental. Os ortopedistas revelam que cada vez há mais lesões nas crianças por serem treinadas como adultos.

"Corre! Dá-lhe, não sejas calão! Assim não, seu inútil!”, são incitamentos que alguns pais dirigem aos filhos, e podem ser ouvidos nos campos e pavilhões desportivos. Expressões deste género não influenciam apenas a mente das crianças, podem também trazer riscos para a sua saúde física. Para as crianças, o desporto deve ser um jogo, isso é que, na opinião de Óscar Incarbone, presidente da Associação Latino-americana de Atividade Física e Saúde e Coordenador do Programar Argentina Saudável, protege a saúde física e mental das crianças.

“O aumento de horas de treino e aumento das exigências não deve começar antes dos 14 anos. A questão é adaptar o desporto à criança, e não a criança ao desporto”  acrescentou o referido especialista.

No livro “Meu filho campeão”, Marcelo Roffe, Alfredo Fenili, Nelly Giscafre, especialistas em psicologia desportiva, salientam que "os pais podem ser um fator motivador ou um fator de pressão. Uns são os que perguntam à criança, depois de um jogo, ganhaste? Os outros normalmente perguntam gostaste do jogo?

Enrique Prada, cardiologista do Centro Nacional de Alto Desempenho da Secretaria de Estado do Desporto da Argentina disse que "é comum ver crianças desesperadas com os resultados mas, na realidade, muitas vezes são os pais os mais preocupados. Não entendem que os seus filhos precisam de se divertir e gostarem de tentar melhorar. Os pais devem ter mais cuidado para diferenciar entre seus próprios e desejos dos seus filhos."

Marcelo Halfon, psicólogo do desporto e membro da Associação de Psiclogia da Argentina (APA), disse: "Há uma tendência em projetar expectativas de jogadores frustrados e esquecer que eles devem primeiro considerar os gostos e expectativas dos seus filhos." O dr. Prada escreve que "os tendões e músculos das crianças não crescem ao mesmo tempo, se não se levar em consideração este desfasamento aumentando a intensidade de treino podem-se causar lesões.”

Segundo a Sociedade Argentina de Ortopedia e Traumatologia Infantil (SAOTI), nos últimos anos tem havido "um aumento na incidência de lesões desportivas nas populações de crianças e jovens desportistas. As lesões mais comuns são lesões traumáticas agudas e as provocadas por sobretreinamento, que ocorrem normalmente na parte final dos treinos."

Para Luis Herdociain, diretor da Licenciatura em Alto Rendimento Desportivo da Universidade de Lomas de Zamora, o importante não é ir à procura do resultado, mas do desenvolvimento das crianças. Lionel Messi joga desde a infância, mas sua carreira foi muito controlada, cumpriu todas as etapas necessárias de forma adequada em cada uma. O problema do argentino médio é querer que seus filhos sejam Messi, mas cada criança dá o que pode dar, pedir-lhe mais converte-se numa prática selvagem.