A importância da experiência vivida (1)
 
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A importância da experiência vivida (1)

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A importância da experiência vivida (1)Como referência principal do fenómeno do comportamento, importa assumir a importância da continuada experiência vivida do corpo nas relações com tudo o que nos envolve, nomeadamente com os outros.

Na realidade atual, perante as aproximações gradualmente verificadas entre a filosofia e a neurociência, fenómenos relacionais entre seres humanos como os da imitação precoce, das primeiras impressões, da ressonância afetiva, da perceção e processo de tomada de decisão, ilustram de modo bem evidente o caracter decisivo da comunicação intersubjetiva.

Habitamos o meio ambiente em que nos inserimos através de uma continuada experiência percetiva mobilizadora de um determinado modo de habitar o espaço e o tempo e organizar o respetivo campo percetivo. Numa profunda conexão com a nossa dimensão sensitiva, vamos assim ao encontro das coisas e dos outros. Nessa nossa existência e respetiva relação com tudo o que nos envolve, centramo-nos nas experiências sensíveis do nosso corpo próprio e vivido.

Trata-se de um trajeto existencial a que estamos sujeitos, onde não é naturalmente possível separar a atribuição de um sentido e um significado a tudo o que fazemos, da noção de transcendência ou do corpo próprio/vivido.

A consciência originária não é um ato de pensamento, mas um encontro entre nós e o mundo que se concretiza no corpo vivido por via das experiências entretanto efetuadas; e tal acontece através da nossa expressão motora enquanto intencionalidade originária, verdadeira consciência originária. A consciência do outro é assim, antes de mais, a experiência peculiar de ser corpo de outrem.

O nosso andar, os nossos gestos, o modo como falamos e olhamos, o nosso tom de voz, tudo funciona para os outros como a informação que precisam para nos compreender e avaliar.

Ao redor de cada um de nós temos assim como que uma atmosfera de humanidade em que o convívio com os outros nos permite uma experiência vivida criadora de hábitos (1) por anexação ou incorporação de objetos e espaços. “Trata-se da dimensão do hábito que, (para além de ser esquema corporal) quotidianiza ou familiariza o espaço intersubjetivo através da sua vocação para incorporar ou anexar dinamicamente objetos e lugares. Assim deve entender-se que o hábito comporta ao mesmo tempo, um movimento de incorporação ou anexação do mundo e a concretização de uma disposição corporal que se ritualiza, se “espiritualiza” e se inscreve concretamente na forma dos objetos, na “história” dos lugares e nos costumes que os iluminarão.“ (2)

Como que uma experiência pré-pessoal em que, por um lado, estranhamos determinado objeto ou situação ainda não vivenciada e, pelo outro, como que revelamos parecer saber o que fazer e quando, relativamente a essa mesma situação ou objeto. Também no que se refere ao modo como em determinadas circunstâncias sentimos a presença de alguém, num espaço entretanto vazio. “Imaginemo-nos a entrar em “uma casa recentemente desocupada”, sobre uma mesa vemos um cachimbo equilibrado num cinzeiro e, junto a uma cadeira, encontramos uma prótese “em pé”. Tudo neste enquadramento emitirá “uma atmosfera de humanidade”, embora a casa permaneça desocupada dos seus habitantes. Trata-se aqui, pois, de uma experiência ambígua, equívoca e perturbadora: “não se vê ninguém” e, simultaneamente, “tem-se a sensação” de “perceber” alguém presente em ausência naquele cachimbo e naquela prótese.” (3)

Uma constante tensão entre aquilo que é o nosso conhecimento expresso e o saber anónimo do corpo, como no exemplo em que, mesmo não estando ninguém presente naquela sala, conseguimos sentir a presença de alguém através daqueles objetos recentemente utilizados. A nossa experiência do mundo parece muitas vezes não ser exclusivamente nossa, pois através do poder de significação pré-pessoal que todos possuímos, compreendemos também os outros através de uma experiência incorporada do mundo. “Um verdadeiro poder anónimo e pré-pessoal de pertença mundana do corpo, uma tensão, referida entre o que objetivamente percebo e o que anonimamente se percebe em mim, entre o que sinto e o que se vem sentir em mim, entre o que é “meu” no meu corpo atual e o que é do “outro” no “meu” corpo habitual e anónimo… “Eu” e “outro” não somos duas mentes encerradas numa caixa craniana, mas desde sempre dois corpos vividos partilhando, reencenando e misturando anonimamente comportamentos tacitamente significados por transposição vivida. O “outro” é então de algum modo já sempre “conhecido” pela própria motricidade ou intencionalidade originária do corpo não intencional.“ (4)

Nós e os outros, enquanto órgãos de uma única intercorporalidade, somos corpos sensíveis e excitáveis e, em simultâneo, sujeitos e objetos, coisas que sentem e pertencem à mesma dimensão intersubjetiva (5). Luis Umbelino argumenta, a este respeito que “não será, portanto, verdade que para conhecer o outro seja sempre necessário conhecer-nos primeiro a “nós-próprios”, que um “Eu” tenha que estar dado à partida como certeza de si. Ao contrário, é o facto de, como corpo, “eu” não coincidir comigo mesmo por força da dimensão anónima e pré-pessoal da minha corporeidade complexa que o outro é possível para mim”. (6)


 

1 - Segundo Merleau-Ponty, “eu posso instalar-me no meio que me envolve, através do meu corpo como potência de um certo número de ações familiares.” (Phénoménologie de la Perception, 135).
2 - Umbelino, Filosofia do corpo e inventário da dor, (II), 298.
3 - Umbelino, Filosofia do corpo e inventário da dor, (II), 298.
4 - Umbelino, Filosofia do corpo e inventário da dor, (II), 300.
5 - Para Merleau-Ponty, “cada um de nós emite uma atmosfera de humanidade quer sejam pequenos sinais dos nossos passos na areia, ou pelo contrário, se visito de cima a baixo uma casa recentemente evacuada.” (Phénoménologie, 405).  
6 - Umbelino, Filosofia do corpo e inventário da dor, (II), 301.


Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores

Comentários 

 
0 #1 Humberto Gomes 12-12-2022 10:51
Grato, prof. e mestre - porque sábio ! -. Para refletir, interiorizar e praticar. Abraço fraterno.
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