“A nossa verdadeira pequenez não vem da geografia mas do modo como nos pensamos”
Mia Couto - O Bebedor de Horizontes
Portugal, para mal dos nossos pecados, continua entre os países mais pobres da União Europeia. Curiosamente, apesar de estar abaixo de nós, a Grécia tem um basquetebol bem mais forte que o nosso. Sei muito pouco, para não dizer que não sei nada, sobre o sistema desportivo grego, mas sei que apesar de termos recursos financeiros limitados, conseguimos gastar o dinheiro dos nossos impostos, em dois sistemas desportivos para a formação, o sistema desportivo escolar e o sistema desportivo federado, e nenhum funcionar bem. Apesar de tudo, e com grande dispêndio das famílias, que pagam para que os seus filhos possam praticar a modalidade, e com enorme esforço, quando por exemplo, transportam os seus filhos para os treinos e jogos, o sistema federado é considerado o menos mau.
Muito se fala e inclusivamente escreve sobre a unificação dos dois sistemas desportivos, mas muito pouco ou nada se faz. Em 2017 foi divulgado um documento com o título: “Um só basquetebol – Estratégias e convergências."
Contudo passados todos estes anos, nem a simples unificação dos escalões etários proposta logo no início deste documento, foi alcançada. Neste particular e em defesa do sistema desportivo escolar, claramente prefiro os escalões etários do sistema desportivo educativo.
Se o sonho da unificação dos dois sistemas desportivos viesse a ser uma realidade, talvez fizesse sentido, que a reorganização do basquetebol de formação assentasse sobre os dez quadros de zona pedagógica existentes no continente, mais as duas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. Há muito que o sistema escolar abandonou a divisão distrital. No entanto, para dificultar este raciocínio, segundo ouvi dizer os quadros de zona pedagógica vão ser sujeitos a grandes alterações.
Se esta unificação não passa de um sonho e não depende apenas da modalidade, já a reorganização, com base noutros critérios, é uma decisão exclusiva do universo do basquetebol. É uma decisão da federação, dos clubes e de todas as associações ligadas à modalidade. Já lá vão quase 12 anos e no artigo “Novas fronteiras que critérios?” escrevi o seguinte:
“Se a divisão administrativa e geográfica em torno do conceito distrito já não faz sentido, como poderá então ser reorganizada a divisão geográfica e administrativa do basquetebol nacional.
Para podermos responder à pergunta anterior penso que teremos de saber responder às seguintes perguntas: Onde é que há basquetebol no país? Onde é que já houve basquetebol nos últimos 20 anos? E finalmente onde é que nós queremos que haja basquetebol? (…) A terceira pergunta já implica uma visão e tomadas de decisão e a meu ver deve ser respondida em função de três factores: O demográfico, fazer o levantamento dos concelhos com mais de 15.000 habitantes; o da proximidade geográfica dos locais onde já existe o basquetebol; o da organização desportiva.”
Desde que nascemos ninguém sabe que quantidade de areia existe na parte de cima da sua ampulheta, por isso não sei se daqui a 12 anos, quando estiver a caminho dos meus 82 anos, se ainda por aqui andar, não sei qual será a organização geográfica e administrativa do basquetebol. Nessa ocasião, se alguém se lembrar dos meus artigos, serei me considerado um visionário ou utópico. O tempo o dirá! Pela minha parte, e em nome da liberdade de pensamento, sinto-me bem com qualquer um dos epítetos.