Um Português, uma enorme paixão pelo basket e uma experiência de vida inacreditável. Conheça esta história fantástica na primeira pessoa.
Chamo-me Nuno Gomes e seguindo a sugestão do meu grande amigo e ex-companheiro de equipa André Martins, actual treinador da seleção nacional de Sub 20 masculina, partilho convosco uma história. É uma história de amor pelo basket com uma recompensa final pouco comum no basket Português...
Conto primeiro sucintamente o meu humilde currículo desportivo:
Formação desde os 10 anos no S.C. Farense sendo chamado para a equipa sénior aos 17 anos onde partilhei o balneário com um grande nome do nosso basquetebol. Lembram-se do LaVerne Evans? Foi no Farense que ele começou a jogar em Portugal e fomos campeões da segunda divisão A em 1995-1996. Após recomendação e orientação do nosso treinador Humberto Gomes, segui para o Benfica onde joguei durante 3 anos. Aqui, evoluí como jogador, muito devido aos excelentes treinadores que tivemos. Ficámo-nos por vice-campeões e finalizando o escalão de esperanças sub.22 percebi então que não iria viver do basket. Tomei assim a decisão mais difícil: Vou deixar de colocar o basket como a maior prioridade da minha vida, mas vou continuar a competir enquanto tiver pernas. Passei pelo Belenenses, fiz Erasmus na Finlândia jogando na 2ª div. Finlandesa, regressei a Lisboa ao Estoril Praia e no ano 2000 fui para Praga. Treinei com o Sparta de Praga e aqui estava na minha melhor forma – só uma lesão séria no músculo da coxa me impediu de ficar na equipa. Voltei para Portugal por afazeres profissionais e joguei no Imortal de Albufeira. Em 2005 vou fazer um mestrado em Barcelona e joguei na primeira divisão Catalã que tem um nível bastante bom, acreditem. É incrível, mas em Barcelona existem 8 divisões de basket e é fantástico como está estruturado o basket logo desde pequeninos nos colégios, onde também treinei uma equipa mista de iniciados. Grande experiência.
Ainda vivi em Itália e enfim... Até aqui a nível basquetebolístico nada de especial, certo? Certo. Mas esta história torna-se interessante pelo que se passou a seguir:
Em 2010 venho para Macau. Como nunca parei de jogar, apesar dos meus já 34 anos, comecei a perguntar acerca do basket local. Ninguém me soube dizer nada e até ouvi dizer que o basket era só para os Chineses. Não conformado com a informação após pesquiza mando um e-mail com o meu breve currículo desportivo para a Associação de Basket de Macau. Convidaram-me para um encontro e explicaram-me que a época estava parada, mas que havia treinos com a seleção de Macau, onde eu poderia ir treinando. Assim foi. Cheguei à seleção e fui muito bem recebido. Estávamos em Maio e em Setembro, quando começou a época chamaram-me para integrar uma equipa que se chama FuKien Macau. Nesse ano ganhámos a taça (silver cup) de Macau e neste ano de 2012 fomos campeões de Macau, sendo eu o único estrangeiro do campeonato. O basket em Macau baseia-se na rapidez dos jogadores e nos lançamentos exteriores.
Tendo eu 1.92m e experiência nas posições 3 e 4 adaptei-me perfeitamente ao estilo: Ganhar ressaltos e soltar a bola rápido para o contra-ataque. Nisto, nunca deixei de treinar com a seleção de Macau e este Maio, dois anos e meio após a minha chegada convidaram-me a participar num torneio internacional na província de Fu Jian, na China continental. Aprendi Mandarim, estreei-me como internacional e agarrei o 5 inicial da seleção de Macau como estremo-poste. Mas a verdadeira razão de vos contar esta história é que Macau foi selecionado para participar na taça da Ásia que se realiza no Japão de 13 a 23 de Setembro onde iremos jogar contra as melhores seleções Asiáticas, China, Japão, Líbano...
Conta o clichê que a magia acontece quando temos a coragem de deixar a nossa zona de conforto. Eu acrescento que se fizermos o que quer que seja com e apenas por paixão, somos recompensados. Sou desde pequeno completamente apaixonado por esta modalidade e aqui está a minha recompensa: Aos 36 anos sou internacional por Macau e vou jogar na mais prestigiada taça Asiática. Naturalmente já não salto como saltava nem corro tão rápido, no entanto, não perdi intensidade e acreditem que vou aproveitar cada minuto que estiver em campo.
Comentários
Na realidade, esta minha recompensa terá de esperar. Já estou em Tóquio com a equipa mas infelizmente a FIBA acabou por não aceitar a minha inscrição na prova. Anteriormente a Associação de Basket de Macau tinha-me dito que estava tudo certo, mas segundo consta, precisar-se-ía de provar a minha residência em Macau há pelo menos 4 anos (falta-me 1 ano e picos) para poder representar a seleção num torneio desta dimensão. Parecia estar tudo certo, mas depois a FIBA esteve a ponderar e foi esta a decisão tomada - são as regras. Mais uma prova de que os caminhos do coração raramente são lineares...
Desta forma, estou certo que a equipa encontrará soluções para colmatar a minha ausência e é com alegria que vejo muitos jogadores em excelente forma aos 30 e muitos anos de vida. Resta-me encarar esta situação como motivação para me manter activo durante pelo menos 1 ano mais. Ou dois. Um abraço!
Há umas quantas frases que costumo dizer que servem de base a quase tudo o que faço, do tipo: "never give up"; "no pain no gain"; "follow your dreams", agora lendo a tua história me apercebo que o que para mim acabam por não passar de frases cliché, são para ti reais ideiais de vida! A tua história inspira-nos (e não é só a desportiva)! Dá-lhe Nuno, parte essa merda toda!
Te desejo tudo de bom e muita sorte, pois você realmente merece.
Um grande abraço do brasuca que te admira muito...
Parabens pela coragem das opções de vida que tens tomado. Ficamos todos os que te conhecem contentes por te verem feliz e realizado.
Um abraço e aproveita bem mais essa experiencia.
Não sou um daqueles aficcionados da modalidade embora goste de ver uns jogos, sou é grande amigo deste "cromo", um verdadeiro globetrotter.
Força Grande, joga com tudo o que tens, e, acima de tudo, diverte-te!!
Felicidades por aí, abraço.
Força aí!