Carlos Gonçalves - Presidente do Comité Europeu de Fair-Play
 
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Carlos Gonçalves - Presidente do Comité Europeu de Fair-Play

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alt"Como é que é possível valorizar qualquer vitória independentemente dos meios que são utilizados para a alcançar"



 

O que fazia antes de ocupar o cargo de Presidente do Comité Europeu de Fair-Play? Qual a sua ligação ao basquetebol?

A minha vida como praticante desportivo de basquetebol teve início no Sport Algés e Dafundo em 1951/52, tinha eu 12 anos de idade. Mantive-me no clube, como praticante, até que atingi a selecção Nacional sénior com 18 anos e 27 dias (julgo que terei sido o mais novo internacional sénior de Portugal, a par dum outro praticante de muita nomeada José Alberto), era seleccionador nacional o professor Teotónio Lima. Mantive-me mais alguns anos no Sport Algés e Dafundo mas entretanto acabei por sair para o CDUL (Centro Desportivo Universitário de Lisboa), clube que jogava na 2ª divisão Regional e Nacional, onde permaneci durante 3 anos. Por motivos de serviço militar, onde estive perto de 4 anos e por ter terminado o meu curso de Professor de Educação Física e ter iniciado a minha actividade profissional, terminei a minha carreira como praticante.

Enveredei então pela carreira de treinador. Tive oportunidade de treinar as equipas de formação da CUF do Barreiro e do Sport Lisboa e Benfica numa primeira fase. Em seguida, ausentei-me para Timor onde prestei serviço militar. Aí lancei o basquetebol na então denominada província de Timor. Regressei à metrópole e segui para Angola onde durante 5 anos fui director técnico provincial do basquetebol na então província de Angola, mais concretamente entre 1967 e 1972. É em 1972 que regresso definitivamente a Portugal onde volto a tomar conta das equipas de formação do Benfica, trabalhando em colaboração com o professor Teotónio Lima e com o professor Eduardo Monteiro. Depois passo a exercer funções de treinador de formação e de coordenação técnica no Clube Atlético de Queluz e no Clube Nacional de Natação. Entretanto, durante um curto período entre 1983-1984 fui Director Técnico Nacional da Federação Portuguesa de Basquetebol.

Fale-nos um pouco do Comité Europeu de Fair-Play? Há quanto tempo exerce funções neste Comité?

O Comité Europeu de Fair-Play é uma Organização Não-Governamental fundada em 1994 na Suíça por representantes de 14 Países Europeus. Nessa assembleia constituinte, a preocupação fundamental que hoje se mantém era a defesa dos princípios e valores do fair-play em todas as actividades desportivas desde o desporto de formação ao desporto de alta competição, bem como na vida em sociedade. Essa organização denominada European Fair-Play Movement foi-se alargando e hoje, passados 14 anos, conta com 41 países filiados, representados por organizações nacionais, no caso de Portugal é neste momento a Confederação de Desporto de Portugal (cada país só pode ter uma organização filiada). Em 1994 fui eleito Vice-Presidente do organismo até 2000, ano em que fui eleito Presidente do Comité, cargo que ainda hoje exerço (2º mandato).

O basquetebol é um sinónimo e fair-play e vice-versa. O que pensa desta afirmação?

Todo o desporto em si, contem virtualidades educativas que devem ser aproveitadas. Ora bem, o desporto só por si ou o facto de um jovem estar envolvido num desporto como o basquetebol não significa que isso lhe esteja a ser benéfico, caso essas virtualidades educativas não estejam a ser exploradas. Ora, estas têm que ser exploradas. E por quem? Por aquilo que se consideram ser os agentes de socialização e agentes de formação. Quem é que pode dar valor educativo, quem é que pode transmitir os valores e princípios de fair-play aos praticantes? Estes não se transmitem de pais para filhos de acordo com leis biológicas. Têm que ser ensinados, transmitidos, praticados e constantemente reforçados. A quem compete então esta função? Quem são esses agentes de socialização? 1 – Pais. A prática desportiva é uma questão prioritária para a família. A família é insubstituível! 2 – Treinadores. Têm um papel determinante no valor educativo e formativo dos jovens praticantes. 3 – Dirigentes. A formação dos dirigentes tem que ser adequada às responsabilidades sociais das funções que desempenham, e portanto os dirigentes não podem ser descurados da importância neste papel. 4 – Federações, Associações. Esta têm que organizar os quadros competitivos e proporcionar aos jovens praticantes, quando em competição, quadros competitivos de referência. É da conjugação deste esforço comum destas entidades que podemos dizer que o basquetebol, como outras modalidades, tem imensas virtualidades educativas e formativas. Mesmo no desporto de alta competição. No dia em que o basquetebol como outros desportos, deixar de ter em vista a defesa dos princípios éticos, da correcção, do respeito pelo próprio, da verdade desportiva, da não agressão, do evitar a linguagem de guerra, a linguagem ofensiva, a agressão verbal ao oponente… No momento em que o Basquetebol deixar de se preocupar com isto, deixa de ter razão de existir, passa a ser outro tipo de competição mas não ligada ao desporto. Nós dizemos que o Basquetebol sem valores e sem princípios não tem futuro.

O que pensa da expressão: “Vitória a qualquer preço!”

Inaceitável! Mesmo no desporto de alta competição. A minha grande preocupação é que essa é uma frase hoje muito divulgada e mesmo muito aceite pelos treinadores de formação. Ou seja, a vitória a qualquer preço, custe o que custar é algo de perfeitamente inaceitável no desporto como na nossa vida privada… Como é que é possível valorizar qualquer vitória independentemente dos meios que são utilizados para a alcançar. Será aceitável na nossa vida privada? Como é possível aceitar este princípio na competição desportiva (mesmo na competição de alto nível, repito). Porque no dia em que isso for aceitável, então a competição transforma-se em algo completamente diferente em que o uso e abuso de substâncias ilícitas e dopantes, passa a ser admissível, deixará de haver competição entre equipas desportivas e passaremos a ter competição entre equipas de laboratórios (possivelmente jogará o laboratório A contra o laboratório B). E portanto, o significado da competição desportiva passará a ser outro. Por isso, afirmo que esta frase é absolutamente inaceitável mesmo a nível de alta competição e muito mais criticável no desporto de formação. Aí, a minha visão é Realista/Pessimista, dado que observando competições de jovens, verifico que os comportamentos de todos os envolvidos, infelizmente incluindo os treinadores de jovens é precisamente semelhante aos comportamentos verificados no desporto de alta competição. Por isso, há um longo caminho a percorrer no nosso país nesse aspecto.

O que pensa do projecto PlanetaBasket?

Tudo o que seja para valorizar qualitativamente o nosso basquetebol merece todo o meu apoio incondicional. Quem vai dar valor a este projecto são naturalmente as pessoas envolvidas e portanto como da minha parte, a equipa merece todo o crédito e todo o apoio, só lhe desejo as maiores felicidades. Porque este é um projecto de um grupo de pessoas mas que se crescer na direcção correcta passará a ser um projecto que nasce de um grupo de pessoas mas que é do interesse do basquetebol nacional, para além do interesse particular legítimo desse grupo de pessoas que está na origem do projecto.

 

 

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